Os/as profissionais de educação de infância relatam frequentemente que uma das principais preocupações no seu quotidiano tem que ver com a gestão dos comportamentos desafiantes das crianças, tais como atirar objetos, interromper as atividades das outras crianças, bater, não cumprir as regras ou as instruções… Neste texto irei destacar um conjunto de estratégias que pode adotar para responder aos comportamentos desafiantes das crianças, deixando para uma próxima mensagem a análise de práticas consideradas essenciais na prevenção da ocorrência deste tipo de comportamento.

Se, em alguns casos, os comportamentos desafiantes são pontuais e fáceis de gerir, noutros são persistentes e intensos, interferindo de forma significativa na aprendizagem e no envolvimento das crianças em interações pró-sociais com pares e adultos [1, 2]. Tal intensidade e persistência pode ser entendida como uma manifestação precoce de desenvolvimento socioemocional atípico das crianças [1].

Com efeito, a investigação nacional e internacional tem documentado a existência de muita variabilidade nas competências socioemocionais (ex., controlar as emoções e o comportamento, cooperar, seguir instruções) das crianças no período pré-escolar [3, 4]. Algumas crianças transitam para o 1.º ano de escolaridade em desvantagem, podendo enfrentar sérias dificuldades na adaptação às exigências do novo contexto educativo formal [2, 5]. Além disso, se as fragilidades a nível do desenvolvimento socioemocional no período pré-escolar persistirem ao longo do tempo, as crianças podem vir a sentir problemas a nível escolar e social a médio e longo prazo [1, 2].

Neste sentido, importa atuar o mais precocemente possível para diminuir a probabilidade de os comportamentos desafiantes se repetirem e, inclusive, persistirem e se intensificarem, evitando-se, assim, uma intervenção mais intrusiva e intensiva. Para tal, apresento em seguida algumas estratégias que poderá mobilizar na sua atuação [1, 2, 6]:

1. Assegure-se que é claro para as crianças o que se espera delas em cada situação.

Por exemplo, pode explicitar de uma forma simples quais as expectativas em relação ao comportamento esperado através de uma canção ou de imagens/fotografias (arrumar a sala após o jogo livre, fazer o comboio para idas à casa de banho ou refeitório, etc.).

2. Redirecione a criança para um comportamento alternativo adequado, informando-a sobre o que ela deve fazer.

Por exemplo, se a criança tirou um brinquedo a outra criança, lembre a criança da competência social adequada para a situação (i.e., negociar com a outra criança). A interação com a criança deve envolver o mínimo necessário de atenção, discussão e emoção.

3. Reforce positivamente e de forma específica a criança mais próxima que esteja a demonstrar um comportamento alternativo adequado.

Por exemplo, “Depois de ter dito que é hora de arrumar, o Manuel começou a colocar os livros na estante do cantinho da biblioteca”. Se a criança adotar o comportamento desejado, reconheça de forma genuína o seu esforço, focando a atenção no comportamento adequado (ex., “Pedro, obrigada por arrumares calmamente os carros na garagem”).

4. Quando a criança substituir o comportamento desafiante por um comportamento adequado alternativo, dê-lhe atenção positiva.

Pode participar na brincadeira da criança, conversar sobre os seus interesses, dar-lhe uma oportunidade para responder a uma questão na atividade de grupo ou até demonstrar apreço de forma não verbal. Importa que a criança experiencie atenção positiva por parte do adulto, após demonstrar o comportamento adequado e se sinta novamente parte do grupo.

5. Sempre que possível e adequado, ignore os comportamentos desafiantes ligeiros das crianças.

Salvaguardando sempre a segurança da criança e dos pares, preste o mínimo de atenção ao comportamento inadequado, evitando reforçá-lo. Muitas vezes o comportamento desafiante é uma tentativa de obter atenção ou de escapar de uma atividade não preferida.

 

Qualquer atuação neste âmbito implica a conjugação destas estratégias com a adoção intencional de práticas preventivas universais, associadas a relações positivas com as crianças e respetivas famílias e à organização de ambientes de qualidade, as quais são consideradas indispensáveis numa abordagem de atuação proativa e sistemática no âmbito da gestão dos comportamentos desafiantes das crianças [1, 7]. Numa próxima mensagem irei analisar algumas destas práticas.

Até lá, partilhe connosco que estratégias costuma adotar para lidar com os comportamentos desafiantes das crianças da sua sala. Conte-nos tudo na secção dos comentários.

 

Carla Peixoto, Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico do Porto

 

Referências
[1] Powell, D., Dunlap, G., & Fox, L. (2006). Prevention and intervention for the challenging behaviors of toddlers and preschoolers. Infant & Young Children, 19(1), 25-35.
[2] Coleman, J. C., Crosby, M. G., Irwin, H. K., Dennis, L. R., Simpson, C. G., & Rose, C. A. (2013). Preventing challenging behaviors in preschool: Effective strategies for classroom teachers. Young Exceptional Children, 16(3), 3-10.
[3] Boyd, J., Barnett, W. S., Bodrova, E., Leong, D. J., Gomby, D., Robin, K. B., & Hustedt, J. T. (2005). Promoting children’s social and emotional development through preschool. NIEER Policy Report (March 2005). New Brunswick, New Jersey: National Institute for Early Education Research, Rutgers University.
[4] Rimm-Kaufman, S., Pianta, R. C., & Cox, M. (2000). Teachers’ judgments of problems in the transition to school. Early Childhood Research Quarterly, 15, 147-1669.
[5] Cadima, J., Gamelas, A. M., McClelland, M., & Peixoto, C. (2015). Associations between early family risk, children’s behavioral regulation, and academic achievement in Portugal. Early Education and Development, 26(5), 708-728.
[6] Strain, P., Joseph, J., Hemmeter, M. L., Barton, E., & Fox, L. (2017, January). Tips for responding to challenging behavior in young children. Pyramid Equity Project. Retirado de https://www.pbis.org/Common/Cms/files/pbisresources/2017-01%20PEP%20Tips.pdf

À beira de um ataque de nervos? Como lidar com os comportamentos desafiantes das crianças

Carla Peixoto

Licenciada e doutorada em Psicologia pela Universidade do Porto, com especialidade em psicologia da educação pela Ordem dos Psicólogos Portugueses. Docente no Instituto Universitário da Maia (ISMAI) e investigadora no inED - Centro de Investigação e Inovação em Educação da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico do Porto. Tem como principais interesses de intervenção e de investigação as questões relacionadas com a literacia emergente, a aprendizagem socioemocional e a qualidade dos principais contextos de desenvolvimento dos indivíduos.

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