Em 1968, dois professores americanos (Robert Rosenthal e Leonore Jacobson) fizeram uma experiência com as crianças que frequentavam a sua escola [1]. No início do ano letivo, todas as crianças fizeram um teste de QI. Cerca de 20% das crianças tiveram notas bastante altas e mostraram um alto potencial de desenvolvimento. Eles comunicaram os resultados do teste aos professores, mas com uma manipulação: as notas 20% mais altas dos testes das crianças foram atribuídas aleatoriamente às crianças nas salas de aula. Os resultados? No final do ano letivo, todas as crianças que foram percebidas pelos professores como as crianças de “alto potencial” melhoraram significativamente. Este efeito ficou conhecido como o efeito Pigmalião.


Pigmalião: permitir que outros cresçam acreditando neles


Pygmalion era um antigo escultor grego. Ele amava e temia simultaneamente as mulheres. Portanto, criou uma escultura da mulher perfeita para a qual ele olhava sempre que queria. A escultura era tão perfeita, que se apaixonou por “ela”. Quando conheceu a deusa do amor, Afrodite, numa festa, ela concedeu-lhe um desejo. Pygmalion desejou uma mulher como a sua escultura e, com o poder de Afrodite, a sua escultura tornou-se viva quando ele voltou para casa e beijou-a. Dentro do campo da pedagogia e da educação, o simbolismo deste mito teve o seguinte significado: podemos dar vida aos outros com base nas nossas expectativas.

O efeito Pigmalião pode ser de grande influência para as crianças que crescem em circunstâncias desfavoráveis. Várias investigações mostram que a mobilidade social para estas crianças é bastante baixa. Quando se nasce em condições precárias, há maior probabilidade de permanecer em condições precárias durante a vida adulta. A vizinhança e as circunstâncias em que se nasce têm, portanto, um grande impacto nas oportunidades que se tem na vida. Diversas investigações sugerem que nos bairros mais desfavorecidos há mais desemprego e criminalidade, mais problemas de saúde (mental) e as crianças, muitas vezes, são aconselhadas pelos/as professores/as a frequentar as vias profissionais do ensino secundário [2].


Expectativas dos/as professores/as

Em vários países europeus, as crianças vão para diferentes níveis de ensino secundário ou superior. Para alguns países (como a Holanda), a avaliação do/a professor/a do primeiro ciclo desempenha um grande papel no percurso educacional das crianças, pois eles dão aos pais conselhos sobre o tipo de escolaridade em que as crianças se devem matricular. Infelizmente, os conselhos para crianças de famílias carenciadas são diferentes, refletindo expectativas mais reduzidas.

Todos os/as professores/as formam expectativas sobre os/as seus/suas alunos/as. Essas expectativas baseiam-se numa variedade de características dos/as alunos/as: gênero, origem étnica e cultural, prestígio académico, estatuto socioeconómico. Os/as professores/as comunicam as suas expectativas aos/às alunos/as, na maioria das vezes de forma implícita. Por exemplo, se têm expectativas mais elevadas em relação aos/às estudantes, estes/as tendem receber mais solicitações para participar, recebem perguntas mais difíceis e recebem mais ajuda quando respondem de forma errada. O contrário também acontece. Se os professores têm expectativas baixas em relação às crianças, estas têm menos oportunidades de participar. Quando dão respostas erradas, os/as professores/as são propensos/as a pensar que é difícil para elas e desviam a sua atenção para outras crianças.

Este tipo de comportamento por parte dos/as professores/as raramente é intencional, mas acontece involuntariamente. Além disso, as expectativas tendem a manifestar-se desde uma idade bastante jovem. As crianças pequenas são especialmente sensíveis a estes sinais, pois formam expectativas sobre si mesmas e sobre o seu comportamento com base em sinais do ambiente. Como tal, as investigações mostram que é muito importante que os/as professores/as tenham expectativas positivas em relação às crianças. Um grande estudo com mais de um milhão de alunos sugere que as expectativas dos/as professores/as são as que mais contribuem para o desempenho académico das crianças. O segundo preditor mais forte são as expectativas das próprias crianças sobre as suas capacidades de aprendizagem, que mais uma vez são influenciadas pelas expectativas dos/as professores/as [3].

Como pode apoiar a igualdade de oportunidades?

As expectativas que tem acerca das crianças impactam o seu comportamento em relação a elas. Esteja ciente de que ter expectativas baixas em relação às crianças tem consequências para as suas oportunidades na vida. Por outro lado, ter elevadas expectativas em relação a crianças desfavorecidas pode ajudar a criar igualdade de oportunidades. Porém, não é fácil estar ciente de todas as nossas expectativas, explícitas e implícitas, em relação às crianças. Abaixo, encontrará alguns passos e dicas para apoiar a reflexão sobre as suas expectativas e o seu comportamento.

  • Reflita sobre si mesmo/a e sobre a sua sala de atividades. Quais as crianças sobre as quais tem grandes expectativas? Ou expectativas baixas? Converse sobre isso com os/as seus/as colegas. Compartilham as expectativas ou têm expectativas diferentes? Consegue explicar em que se baseiam as suas expectativas (semelhantes ou diferentes)? Considere características tais como sexo, histórico, aparência física, estatuto socioeconómico familiar, etc.
  • Preste atenção ao seu comportamento em relação às crianças. Como reage às crianças em função das suas expectativas? Com que frequência lhes dá a oportunidade de participar? Que tipo de linguagem usa? Quanto tempo ou esforço dedica a ajudar as crianças a entenderem? Se tiver a oportunidade, peça a um/a colega para o/a observar na sala. Outros frequentemente identificam mais padrões no comportamento do que o/a próprio/a.
  • Como passo final, tente experimentar um comportamento diferente. Ajuste o seu comportamento em relação às crianças em relação às quais tem expectativas mais reduzidas. Dê-lhes feedback mais positivo do que o habitual. Não desista se elas não souberem uma resposta a perguntas e ajude-as a procurar a resposta. Não espere resultados imediatos desta mudança. Levará algum tempo para que as crianças ajustem as expectativas que já formaram sobre si mesmas. Mas as crianças são flexíveis e provavelmente reagirão positivamente à mudança.

Se seguir estes passos, acrescentará uma vida inteira de igualdade de oportunidades para todas as crianças!

Traduzido por Tiago Almeida; baseado numa publicação do EarlyYearsBlog, escrita por Annemiek Hoppenbrouwers.

Referências

[1] Rosenthal, R., Jacobson, L. (1968). Pygmalion na sala de aula: as expectativas dos professores e o desenvolvimento intelectual dos alunos. Holt.

[2] Dibi, B. (2021). Van een dubbeltje een kwartje worden? De que se trata? Website: www.kis.nl

[3] Hattie, J. (2014). Leren zichtbaar maken. Bazalt.

O efeito Pigmalião: O poder das expectativas dos/as educadores/as

2 comentários sobre “O efeito Pigmalião: O poder das expectativas dos/as educadores/as

  • 08/02/2023 at 15:21
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    Apesar de tratar-se de uma tradução, muito obrigada pela divulgação deste artigo.
    Independentemente da origem e da personalidade da criança, é essencial que sinta que os professores ou educadores acreditam no seu potencial.

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  • 27/09/2023 at 19:17
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    Excelente, adorei!
    Gostaria que muitos professores o conhecessem .

    Responder

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