A relação entre famílias e educadores/as tem sido frequentemente descrita como a “precisar de obras” [1, 2]. Quando ouvimos os/as pais/mães, especialmente as mães, é referido frequentemente que desejam ter uma relação aberta e de confiança com os/as educadores/as [3]. Ah, excelente! No entanto, à cautela, os pais/mães acabam por preferir não partilhar as suas dúvidas [3]. Afinal, o/a educador/a pode ficar incomodado se perguntar “Porque é que usa o mesmo livro com as crianças há duas semanas? Duas semanas de Grufalão?”

Do lado dos educadores/as, embora estes desejem aproximar-se das famílias, temem perder o “pé” ao seu profissionalismo [1], ou que um pai “helicóptero” (superprotetor) assuma o controlo do espaço aéreo da sala [4]. Este discurso pode parecer exagerado ou ficcionado mas, na verdade, a investigação descreve estas perceções.

Contudo, a investigação também tem indicado que, quando a relação entre família e educadores/as é percecionada por todos como positiva, as crianças sentem-se mais afiliadas à escola, o seu desempenho é melhor, a satisfação dos educadores/as é maior e o sentimento de segurança dos pais e das mães aumenta… Imagine, então, o efeito positivo da acumulação de todos estes fatores bem como a sua interação [5-7] no desenvolvimento e na participação da criança.

5 comportamentos eficazes que os/as educadores/as podem usar para se relacionar com os pais

Na verdade, se alguns estudos descrevem as dificuldades de relacionamento entre pais/mães e educadores/as, outros apontam excelentes experiências de parceria [8, 9]. Partilhamos os contributos dessas experiências promotoras da cooperação família-educadores/as.

  1. Acolha as famílias na sua sala e na sua prática (pelo nome próprio, com simpatia, boas surpresas… já tem as datas de aniversários dos pais e das mães no seu calendário de sala?).
  2. Partilhe a sua experiência, o seu conhecimento e o seu entusiasmo pela educação de infância…e acolha as perguntas e sugestões das famílias.
  3. Explique e volte a explicar o que faz e porque faz.
  4. Confie nos/as pais/mães e ouça com respeito as suas preocupações; valorize uma comunicação honesta.
  5. Faça um mapa com as principais forças, recursos e necessidades de cada família e use esse mapa para se relacionar com pais e mães… ajuda a percebê-los!

Parceria ou participação?

Frequentemente, as famílias são convidadas a participar nas atividades da escola. Por exemplo, são convidadas para assistir às atividades de dias comemorativos, para realizarem atividades pensadas pelo/a educador/a (e.g., fazer um Rei mago para o presépio de natal), para dinamizarem uma história ou para falarem da sua profissão. Estes são, sem dúvida, passos em frente no trabalho com as famílias. Contudo, as formas mais eficazes de colaboração incluem dar “voz” aos pais, ou seja, dar-lhes oportunidade de escolha, decisão e realização [10, 11]. Famílias incluídas ativamente nas atividades, contribuem para a inovação educativa (trazem ideias, materiais e criações que nunca imaginou) e para melhoria das relações entre todos os agentes da comunidade educativa [12].

A caminho da mudança

Na verdade, se ler com atenção as dicas dadas nesta publicação para mudar a sua relação com as famílias verá que tem de fazer obras na sua própria casa. Por outras palavras, pode começar a mudança em si e na sua prática. Na sua abertura às famílias, na capacidade de as envolver e de construir com elas uma verdadeira parceria. Mude o seu próprio comportamento, pois é algo que está ao seu alcance.

E qual é a sua experiência? Tem experiências positivas para partilhar? Partilhe o seu comentário.

 

Marina Fuertes, Escola Superior de Educação de Lisboa

 

Referências

[1] O’Connor, A., Nolan, A., Bergmeier, H., Williams-Smith, J., & Skouteris, H. (2018). Early childhood educators’ perceptions of parent-child relationships: A qualitative study. Australasian Journal of Early Childhood, 43(1), 4-15. doi: 10.23965/AJEC.43.1.01
[2] Scharer, J. H. (2018). How educators define their role: Building ‘professional’ relationships with children and parents during transition to childcare: A case study. European Early Childhood Education Research Journal, 26(2), 246-257. doi: 10.1080/1350293X.2018.1442041.
[3] Assis, M., & Tadeu, B. (2018). Open for a trusting relationship: Portuguese parent’s representations regarding day care. Da Investigação às Práticas, 8(1), 79-93.
[4] Leenders, H., Haelermans, C., de Jong, J., & Monfrance, M. (2018). Parents’ perceptions of parent–teacher relationship practices in Dutch primary schools: An exploratory pilot study. Teachers and Teaching Theory and Practice, 24(6), 719-743. doi: 10.1080/13540602.2018.1456420.
[5] Levental, T., Brooks-Gunnn, J., McCorninck, M. C., & McCarton, M. (2000). Patterns of service use in preschool children: Correlates, consequences and the role of early intervention. Child Development, 71(3), 802-819.
[6] NICHD Early Child Care Research Network (2005). Child care and child development: Results of the NICHD study of early child care and youth development. NY: Guildford Press.
[7] Peisner-Feinberg, E., Burchinal, M., Clifford, R., Culkin, M., Howes, C., Kagan, S. et al., (2001). The relation of pre-school child-care quality to children’s cognitive and social developmental trajectories through second grade. Child Development, 72(5), 1534-1553.
[8] Feuerstein, A. (2000). School characteristics and parent involvement: Influences on participation in children’s schools. The Journal of Educational Research, 94 (1), 29-39.
[9] Epstein, J. L. (2001). School, family, and community partnerships: Preparing educators and improving schools. Boulder, CO: Westview.
[10] Kindervater, T. (2010). Models of parent involvement. Reading Teacher, 63, 610–612. doi: 10.1598/RT.63.7.10
[11] Ritchie, S. & Willer, B. A. (Eds.) (2008). Families and community relationships: A guide to the NAEYC early childhood program standards and related accreditation criteria. Washington, DC: National Association for the Education of Young Children.
[12] Ranson, S., Martin, J., & Vincent, C. (2004). Storming parents, schools, and communicative inaction. British Journal of Sociology of Education, 25(3), 259-274.

“Queridos, mudei a relação família-educadores/as!” Pistas para a parceria e relação positiva entre famílias e educadores/as

Marina Fuertes

Marina Fuertes é Professora Coordenadora com Agregação da Escola Superior de Educação (Instituto Politécnico de Lisboa) e membro integrado do Centro de Psicologia da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto (FPCEUP). É doutorada e mestre em Psicologia com pós-doutoramento na Harvard Medical School. Obteve vários financiamentos e prémios científicos tendo publicado diversos artigos – recentemente na Developmental Psychology.

4 comentários sobre ““Queridos, mudei a relação família-educadores/as!” Pistas para a parceria e relação positiva entre famílias e educadores/as

  • 18/11/2018 at 16:27
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    Excelente artigo. Muito explicito e verdadeiro. A mudança tem realmente começar na nossa casa. Umas das questões que coloquei no final do ano passado, à minha colega de creche, foi mesmo este. A relação escola/família.
    Parabens professora

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  • 19/11/2018 at 00:15
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    Obrigada Dina! Espero que seja útil. Se tiveres exemplos ou casos que queiras partilhar pode ser importante. Continua a visitar o blog.

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  • 11/09/2020 at 10:19
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    Como mãe, interessada em educação e desejando fazer parte da comunidade educativa, tenho encontrado profissionais que estão disponíveis para conversar e se revelam abertos em gabinete, mas que ainda assim mantêm a porta da sala de aula ou do recreio vedada aos pais e mães.
    O contexto actual de pandemia ainda veio criar mais barreiras a esta colaboração.
    E como se poderá agora trazer os pais para dentro da sala de aula quando nem na escola se permite a sua entrada? Foi com alguma angústia que deixei o meu filho este ano, numa escola nova, com pessoas que não conheço, e sabendo que usariam máscara todo o dia na construção de uma nova relação com o meu filho. Como poderão educadores e pais ultrapassar esta dificuldade?

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    • 27/09/2020 at 11:34
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      Cara Catarina
      Obrigada, uma vez mais, pelo seu email e interesse. A sua questão é
      muito pertinente e estou a pensar nela. Tem toda a razão, e estou a
      rever os dados de investigação para sugerir algumas estratégias.
      Brevemente, respondo-lhe na forma de post “”Os pais não podem ficar fora
      da escola, eles são parte da comunidade educativa”. Obrigada, por me
      fazer refletir, e por me inspirar este post.
      Saudações,
      Marina Fuertes

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