Recentemente, desafiamos os nossos leitores a responder à pergunta “Que investigação faz falta em educação de infância?” Hoje partilhamos as respostas que obtivemos e que traduzem necessidades, interrogações e prioridades dos/as profissionais que trabalham em creche e em jardim de infância.

Investigação

Que tópicos de investigação foram identificados?

  • Formação dos/as auxiliares de ação educativa/assistentes operacionais
  • Relações entre profissionais
  • Competências de autorregulação das crianças
  • Mudanças geracionais nas competências de autorregulação das crianças
  • Estratégias de promoção da autorregulação das crianças
  • Práticas dos/as educadores/as que influenciam o desenvolvimento do autoconceito e da autoestima das crianças
  • Características e comportamentos dos pares que influenciam o desenvolvimento do autoconceito e da autoestima das crianças
  • Ser educador/a em creche: especificidade do trabalho com crianças dos 0 aos 3 anos
  • Estratégias de inclusão desde a creche até ao 1.º CEB
  • Pedagogias participativas
  • Importância da fotografia pedagógica (incluindo vídeos) para a recolha de evidências sobre o desenvolvimento das crianças, para a comunicação com as famílias e para a divulgação do trabalho de sala/institucional

Que reflexões nos suscitam estas partilhas?

É interessante verificar que as respostas que recebemos incluem tópicos muito diversos e que abrangem as condições estruturais e organizacionais necessárias para assegurar a qualidade da resposta educativa. Assegurar a formação de todos/as os/as profissionais que interagem com as crianças bem como interações e experiências positivas no contexto da equipa de profissionais são, sem dúvida, tópicos que merecem cada vez mais atenção, valorizando as creches e os jardins de infância como organizações, onde é necessário assegurar boas condições de trabalho [1, 2, 3, 4].

Dois dos tópicos identificados remetem para importantes dimensões sociocognitivas do desenvolvimento das crianças – autorregulação, autoconceito e autoestima – e para os fatores que podem influenciar o seu desenvolvimento em contextos de educação de infância. O apoio à construção da autoestima e ao desenvolvimento da autorregulação está contemplado nas Orientações Curriculares para a Educação Pré-Escolar [5] e tem sido objeto de estudos [e.g., 6], que merecerão a nossa atenção em mensagens futuras.

É de realçar a emergência da especificidade do trabalho em creche como uma prioridade para investigação. É importante reforçar o conhecimento sobre as condições necessárias para promover o desenvolvimento, aprendizagem e bem-estar das crianças mais novas e valorizar (e desenvolver) as competências dos profissionais de educação de infância que trabalham em creche. A este respeito, procuraremos reforçar a partilha de evidências no âmbito do trabalho em creche, aguardando, com expectativa, o resultado do trabalho de conceção de Orientações Pedagógicas para crianças dos 0-3 anos.

Finalmente, foram identificadas três áreas da prática pedagógica que merecem mais investigação: inclusão, participação e documentação pedagógica. Estas são áreas centrais no trabalho diário em contextos de educação de infância e a sua identificação como áreas em que é necessária investigação adicional sugere que, para além de ser necessário continuar a aprender sobre estes tópicos, é vital fazer chegar informação relevante e útil aos profissionais que estão no terreno. Estas três áreas, claramente interrelacionadas, suscitam desafios diários e é de valorizar que os/as profissionais sintam necessidade de evidências e informação adicional para fundamentar as suas decisões diárias.

Agradecemos a vossa partilha. Iremos considerar estes tópicos como sugestões para investigação futura e como interpelações para temas a explorar no PrimeirosAnos.pt.

Referências

[1] Maio, R., Guichard, S., & Cadima, J. (2022). In what conditions are intercultural practices implemented in disadvantaged and diverse settings in Portugal? Associations with professional and organization-related variables. Social Psychology of Education, 1-26. https://doi.org/10.1007/s11218-022-09687-6

[2] Cadima, J., Guedes, C., Grande, C., Charalambous, V., Agathokleous, A., Vrasidas, C., … & Halamandaris, R. (2021). Literature review on early childhood teachers’ careers and professional development, teachers’ well-being (PERMA) and children’s socio-emotional support (SWPBS). Research report, Deliverable D.1.1.

[3] OECD. (2022). Early childhood education and care workforce development: A foundation for process quality. OECD Education Policy Perspectives, No. 54. OECD. https://doi.org/10.1787/e012efc0-en

[4] OECD. (2022). Staff teams in early childhood education and care centres. OECD Education Policy Perspectives, No. 53, OECD. https://doi.org/10.1787/2b913691-en.

[5] Lopes da Silva, I., Marques, L., Mata, L., & Rosa, M. (2016). Orientações curriculares para a educação pré-escolar. Ministério da Educação/Direção-Geral da Educação. http://www.dge.mec.pt/sites/default/files/Noticias_Imagens/ocepe_abril2016.pdf

[6] Salminen, J., Guedes, C., Lerkkanen, M. K., Pakarinen, E., & Cadima, J. (2021). Teacher–child interaction quality and children’s self‐regulation in toddler classrooms in Finland and Portugal. Infant and Child Development30(3), e2222. https://doi.org/10.1002/icd.2222

Em educação de infância, precisamos de estudos sobre…

Cecília Aguiar

Professora Associada no ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa, na área de Psicologia. Os principais interesses de investigação incluem a qualidade em contexto de creche e jardim de infância, a intervenção precoce na infância e o desenvolvimento social das crianças. Apaixonada por literatura infantil.

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