Nesta mensagem Magdalena Woźniak-Frymus da Comenius Foundation for Child Development reflete acerca da importância das crianças terem acesso a brinquedos e livros com género neutro.
No que pensamos quando temos de comprar um presente de aniversário para o/a amigo/a do/a nosso/a filho/a? Para muitos pais (mesmo que sejam profissionais de educação de infância), o primeiro instinto é tomar uma decisão com base no género da criança e decidir se devem comprar uma boneca ou um carrinho de brincar. Porque é tão rápido categorizar os interesses das crianças apenas com base no seu género? Porque as nossas perceções das preferências das crianças estão geralmente corretas – a investigação tem verificado que as crianças desenvolvem preferências por brinquedos tipificados por género desde muito cedo [1]. Desta forma, é normal que os adultos ofereçam às crianças, que já têm essas preferências formadas, brinquedos que elas preferem.
A cor como um factor significativo para a preferência dos brinquedos
Desde cedo que as crianças aprendem por observação e também por participação. A sua preferência, quando se trata de brinquedos e brincadeiras, varia de acordo com os brinquedos que têm em casa e no jardim de infância, mas também de acordo com os conteúdos que veem na televisão e em outros meios de comunicação.
Os fabricantes de brinquedos trabalham constantemente para maximizar os lucros. Em 2012, um estudo [2] analisou um dos maiores fabricantes de brinquedos do mundo e concluiu que categorizam os brinquedos com determinadas cores para serem mais apelativos para um género específico, porque assim vendem mais. O que é preocupante é os investigadores terem revelado que os brinquedos que são socialmente categorizados como “género neutro” e colocados na secção “meninos e meninas” das lojas se assemelham aos brinquedos para meninos, por serem feitos nas cores preta, castanha e vermelha. Deste modo, mesmo que os brinquedos sejam para todas as crianças, é comum rotulá-los para os meninos e limitar as opções para as meninas, cujas preferências são modeladas por cores relacionadas com o cor-de-rosa.
Valor educativo
Acontece que os meninos estão numa posição melhor quando se trata de educação por meio de brincadeiras com brinquedos. Um estudo [3] que analisou o valor educativo de brinquedos específicos, verificou que os brinquedos com os quais os meninos costumam brincar são mais educativos no que diz respeito ao fornecimento de informações e ao desenvolvimento de competências de construção e de competências de literacia. Mas mesmo que o valor educativo seja maior, os meninos também perdem com esta divisão dos brinquedos. Não têm tantas oportunidades de aprendizagem sobre o valor de cuidar ou das tarefas domésticas como as meninas – bonecas, carrinhos de bebé ou aspiradores de pó de brincar são, na sua maioria, cor-de-rosa. Mais ainda, os adultos, por vezes, criticam os meninos por brincarem com “brinquedos de menina”. Assim, os meninos tendem a ignorar estes brinquedos e as atividades relacionadas com eles. Deste modo, para proporcionar às crianças oportunidades iguais de aprendizagem, é importante mostrar-lhes que, independentemente da cor, todos os brinquedos são adequados para todos.
Representação de género nos livros
Os livros costumam ser considerados neutros em termos de género, mas não são tão iguais quando nos concentramos nos papéis e no género das personagens que vemos neles. Quantas vezes uma personagem principal é um homem ou um menino? Com que frequência um papel feminino é de ajudante ou cuidadora de algum tipo? Seria muito importante se todos os profissionais de educação de infância revissem as bibliotecas da sala de acordo com este aspeto específico.
Quando se trata de personagens principais, um estudo [4] mostrou que a representação de género nos livros infantis é desigual. Apenas 31% dos livros para a infância têm personagens principais femininas e só 7,5% quando a história é relacionada com animais. As personagens femininas costumam ser apresentadas nos livros como ajudantes, vítimas que precisam de ajuda ou como cuidadoras. A tendência da escrita orientada para os homens continua muito presente quando as crianças vão para a escola, como se pode ver nos manuais escolares, o que acaba por ter uma grande influência no desenvolvimento das meninas. De mencionar um estudo que verificou que as meninas que leem sobre mulheres cientistas nos manuais tendem a ter melhor desempenho nas aulas de ciências [5].
A representação feminina nos livros é um fator importante quando se trata de dar oportunidades de aprendizagem a todos/as. Deste modo, ao escolhermos uma leitura para crianças, devemos ter em consideração a representação feminina nas personagens e também nos papéis que elas interpretam.
Devemos evitar rotular os brinquedos para géneros específicos, quando dizemos aos meninos que não brinquem com bonecas e panelas ou às meninas que devem deixar os camiões e os tijolos para os meninos. Os/as profissionais de educação de infância devem oferecer às crianças oportunidades iguais de educação e não perpetuar papéis sociais específicos nos primeiros anos de vida. Quantas mais oportunidades de escolha dermos às crianças, quando estão a desenvolver os seus interesses, mais as crianças ficam despertas para experimentar coisas novas.
Os aspiradores de pó para adultos não são cor-de-rosa; não é o objeto que é feminino, é apenas a cor do brinquedo. O mesmo acontece com os carros, as mulheres podem conduzir tão bem quanto os homens. É importante pararmos de pensar nas cores dos brinquedos, nos seus anúncios, e concentrarmo-nos em diversificar o acesso de cada criança aos brinquedos que consideramos valiosos para o seu desenvolvimento. Mais ainda, não podemos esquecer que todas as crianças têm direito a todas as cores. Precisamos de parar de pensar no cor-de-rosa como uma cor para meninas e no azul como uma cor para meninos.
Referências
[1] Todd, B. K., Barry, J. A., & Thommessen, S. A. (2017). Preferences for ‘gender‐typed’ toys in boys and girls aged 9 to 32 months. Infant and Child Development, 26(3), e1986.
[2] Auster, C.J., Mansbach, C.S. The Gender Marketing of Toys: An Analysis of Color and Type of Toy on the Disney Store Website. Sex Roles, 67, 375–388 (2012).
[3] Becky Francis (2010) Gender, toys and learning, Oxford Review of Education, 36(3), 325–344.
[4] McCabe, J., Fairchild, E., Grauerholz, L., Pescosolido, B. A., & Tope, D. (2011). Gender in twentieth-century children’s books: Patterns of disparity in titles and central characters. Gender & Society, 25(2), 197–226.
[5] Good, J. J., Woodzicka, J. A., & Wingfield, L. C. (2010). The effects of gender stereotypic and counter-stereotypic textbook images on science performance. The Journal of Social Psychology, 150(2), 132–147.
Leitura complementar
Cardona, M., Nogueira, C., Vieira, C., Uva, M. & Tavares, T. (2015). Guião de
Educação, Género e Cidadania: Pré-Escolar. Lisboa: Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género.
Tradução e adaptação de Margarida Fialho.
Interessante esta perspectiva.
É apenas interessante porque esta cheia de lugares comuns e a fundamentação teórica empírica é deficiente e pobre.
Porque será que temos de impedir os pais das crianças de comprarem os brinquedos com base no género?
O que são cores do género neutro?
Será que a imposição de cores neutras não está a criar uma limitação a quem gosta de cor-de-rosa e azul? Que direito tenho eu de dizer à minha filha que não pode gostar ou vestir cor-de-rosa e que só pode vestir e gostar de cores neutras? Pobre coitada, e com este tipo de discursos vai ser discriminada por estar a representar o estereótipo do género feminino.
Será que com este exercício não estamos a criar mais categorias, em vez de ensinarmos às crianças que pertencemos a uma categoria maior – a humanidade.
Será que esta categorização não esta a fomentar ainda mais a discriminação?
Na ciência também há modas e é preciso ter cuidado, porque não há verdades irrefutáveis e quando os investigadores trilham apenas um caminho ou uma perspectiva sem se questionarem, entramos num regime ditatorial de pensamento e de agenda.