Todos queremos uma educação inclusiva. Todos queremos fazer melhor pelas crianças e pelas suas famílias. É por esse motivo que, em cada jardim de infância, município, região e país se multiplicam iniciativas, projetos, ações e organismos para a promoção da educação inclusiva. Alguns organismos e projetos atravessam mesmo as fronteiras dos países para que possamos pensar e aprender em conjunto, partilhando experiências e saberes.

Um projeto europeu

Já conhece a Agência Europeia para as Necessidades Especiais e para a Educação Inclusiva? E já ouviu falar do seu projeto “Educação de Infância Inclusiva”? Este projeto desenvolveu vários recursos relevantes. Contudo, destaco um: o Instrumento de Auto Reflexão para um Ambiente de Educação Pré-Escolar Inclusiva [1].

Instrumento de auto reflexão para um ambiente de educação pré-escolar inclusiva_capa

Este instrumento foi identificado como recurso no Manual de Apoio à Prática [2], disponibilizado pela Direção-Geral da Educação após a publicação do Decreto-Lei n.º 54/2018. Destina-se aos profissionais de educação de infância – os que têm responsabilidades ao nível da sala e os que têm responsabilidades de coordenação – assumindo que um ambiente inclusivo é construído em equipa e envolve a comunidade educativa.

Não se trata de um instrumento de avaliação. Contudo, coloca questões que permitem aos profissionais de educação de infância refletirem, individualmente ou em grupo, sobre várias dimensões do ambiente educativo que podem facilitar ou colocar obstáculos à participação e ao envolvimento (e.g., ambiente social, ambiente físico, materiais, comunicação, etc.). Assim, pode apoiar uma autoavaliação individual e institucional aprofundada e fundamentada.

Um exemplo: O ambiente é favorável à família?

Entre várias dimensões, este instrumento convida a considerar em que medida é que o ambiente é favorável à família. Assim, para apoiar a reflexão sobre esta dimensão da educação inclusiva, propõem-se cinco perguntas importantes (p. 25):

Os pais sentem-se bem-vindos e são convidados a participar nas atividades do contexto escolar?
Como se desenvolve uma relação de confiança com as famílias?
Os pais estão bem informados sobre as atividades diárias?
Como é que os pais são envolvidos na tomada de decisões sobre as necessidades de aprendizagem, desenvolvimento e apoio dos seus filhos?
Como é que os pais são envolvidos no planeamento, implementação e monitorização do envolvimento e aprendizagem dos seus filhos?

Perante estas perguntas, os profissionais são convidados a refletir, anotando e ilustrando as suas respostas com exemplos de situações ou atividades. No final, fica também o convite para identificar as mudanças necessárias e para definir prioridades.

Naturalmente, muitas outras estratégias podem ser utilizadas para apoiar a reflexão. Por exemplo, neste caso, faz todo o sentido auscultar as próprias famílias (ou famílias de crianças que frequentaram o jardim de infância previamente) sobre as suas experiências e perspetivas. Para além disso, envolver um “amigo crítico” pode ser muito enriquecedor. Um “amigo crítico” é alguém de confiança que oferece uma perspetiva externa e faz perguntas provocatórias para ajudar a refletir [3]. Em cada jardim de infância, cada profissional ou grupo de profissionais poderão pensar nas estratégias mais relevantes e exequíveis para apoiar uma reflexão fundamentada e crítica.

Um convite…

O início de um novo ano letivo é sempre um bom momento para um novo desafio. Fica, então, o convite para conhecer este recurso do projeto “Educação de Infância Inclusiva” e outros projetos da Agência Europeia. E, como sempre, a partilha das suas experiências e perspetivas é muito bem-vinda.

Referências

[1] Agência Europeia para as Necessidades Especiais e a Educação Inclusiva. (2017). Instrumento de Auto Reflexão para um Ambiente de Educação Pré-Escolar Inclusiva. (E. Björck-Åkesson, M. Kyriazopoulou, C. Giné e P. Bartolo, eds.). Odense, Dinamarca.

[2] DGE. (2018). Para uma educação inclusiva – Manual de Apoio à Prática. Ministério da Educação/Direção-Geral da Educação (DGE)

[3] Alaiz, V. (2011). O papel do amigo crítico no apoio à autoavaliação como mecanismo de introdução de melhoria. Webinars DGE: Da informação ao conhecimento.

Educação inclusiva: Um instrumento de autorreflexão

Cecília Aguiar

Professora Associada no ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa, na área de Psicologia. Os principais interesses de investigação incluem a qualidade em contexto de creche e jardim de infância, a intervenção precoce na infância e o desenvolvimento social das crianças. Apaixonada por literatura infantil.

Um comentário sobre “Educação inclusiva: Um instrumento de autorreflexão

  • 21/04/2021 at 22:59
    Permalink

    Sou docente de educação especial. Estou no terreno e sinto que ainda há muito para fazer. Formação do pessoal docente e não docente é fundamental para que a Educação Inclusiva seja possível. De contrário tenho muitas dúvidas. Há muito desconhecimento sobre a inclusão e falta de saber lidar com as situações

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