Autora: Liesl Veulemans, UCLL, Bélgica
Mensagem original disponível em EarlyYearsBlog.eu.
É o primeiro dia de estágio da Ema numa creche. Ela observa rapidamente a sala. “Onde é que as crianças precisam de mim?” A Ema está em todo o lado e em lado nenhum da sala; ela anda – não, ela corre – de um canto para outro. Ela quer que todas as crianças recebam toda a atenção de que precisam em todos os momentos… No entanto, isso é possível? E, mais ainda, será que é necessário?
Sentar-se ou deixar as crianças em paz
A investigação de Singer e Tajik (2014) sobre a influência do comportamento do adulto no envolvimento das crianças em creche mostra que o envolvimento nas brincadeiras é maior em duas situações: (1) quando o adulto se encontra junto das crianças, de uma forma tranquila, por períodos mais longos de tempo; e (2) quando um pequeno grupo de crianças brinca a uma certa distância do adulto, sem que ele/a intervenha. Movimentar-se rapidamente pela sala contribui para uma maior agitação nas crianças. Como consequência, as crianças envolvem-se menos e tendem a procurar rapidamente outras coisas para fazer. Por outro lado, intervenções curtas e rápidas, por parte do adulto, também acabam por ter efeitos negativos na brincadeira das crianças porque, embora bem-intencionadas, essas intervenções resultam em interações unilaterais. Se o adulto diz algo a uma criança e a deixa de imediato, perdem-se oportunidades para um contacto autêntico, significativo com a criança.
Porque é que o contacto autêntico e a interação bilateral são tão importantes para promover o envolvimento das crianças mais novas?
A necessidade de segurança emocional
Para as crianças mais novas, seja em creche ou em jardim de infância, a segurança emocional é uma condição importante para se deixarem absorver completamente por uma brincadeira. Se uma criança se sentir segura com os adultos da sala, ela estará disponível para a descoberta e para brincar. O contato visual regular com o adulto é muito importante: “Ainda está aqui?”, “Ainda me está a ver?” Afinal, as crianças precisam de reconhecimento. Se o adulto se movimenta rapidamente, as oportunidades para contacto visual e para o reconhecimento diminuem. Portanto, o contacto autêntico e a interação bilateral são necessários para estimular o brincar das crianças mais novas e para aumentar o seu envolvimento. Desta forma, as crianças sentem-se seguras e a probabilidade de envolvimento nas brincadeiras aumenta.
Uma sugestão para a prática?
Fique parado/a (ou sente-se!) tempo suficiente para observar o que as crianças da sua sala estão a fazer e tente não correr de um lado para o outro: sente-se, arranje tempo para conversar e para que as crianças saibam que as está a ver, que as está a ouvir, que as está a sentir… Assim, poderá dar o primeiro passo para um maior envolvimento das crianças nas brincadeiras. E se as crianças já estiverem envolvidas nas brincadeiras? Ótimo! Deixe-as brincar!
Experimente e conte-nos as suas experiências. Como é que as crianças reagem? Qual é o efeito no envolvimento das crianças da sua sala?
Tradução: Cecília Aguiar, ISCTE-Instituto Universitário do Porto
Referências
Tajik, M., & Singer, E. (2018). Collaborative research between academics and practitioners to enhance play engagement in the free play of two-and three-year olds. Early Years, 1-15. doi: 10.1080/09575146.2018.1478391
Singer, E., Nederend, M., Penninx, L., Tajik, M., & Boom, J. (2014). The teacher’s role in supporting young children’s level of play engagement. Early Child Development and Care, 184(8), 1233-1249.
Singer, E. & Tajik, M. (2014). De invloed van je eigen gedrag. Verhogen van de spelbetrokkenheid. De wereld van het jonge kind. November 2014, p 4-7.