A promoção de competências emocionais nas crianças tem vindo a ser cada vez mais valorizada [1]. Aos dois anos a criança parece ser já capaz de nomear emoções, aos três começa a falar das experiências emocionais dos outros e aos quatro é capaz de perceber que as reações emocionais podem variar de pessoa para pessoa [2].
Por volta dos três anos a criança tem já conhecimento das emoções básicas (por exemplo, alegria, tristeza, medo, surpresa, nojo, raiva) [3] e é nesta altura que tendem a aumentar os comportamentos associados à raiva e à oposição. A emergência das emoções sociais (culpa, vergonha, orgulho) por volta do segundo e terceiro ano de vida tende a facilitar a adoção de comportamentos pró-sociais e um melhor ajustamento da criança ao seu contexto social [2]. No entanto, as emoções básicas continuam a ter um papel fundamental. Por exemplo, a alegria tende a promover comportamentos de jogo e a interação com os pares e a tristeza a aproximação social e suporte emocional.
As emoções ajudam as crianças a adaptar-se?
As emoções, tanto positivas como negativas, têm funções adaptativas [2]. Contudo, precisam de ser reguladas. A regulação emocional, definida como “um processo intrínseco e extrínseco responsável por monitorizar, avaliar e modificar as reações emocionais, em especial, a sua intensidade e características temporais, com o fim de alcançar objetivos pessoais” [4, pp. 27-28], assume particular importância, durante os anos pré-escolares, visto ser reconhecido o seu papel na adaptação das crianças às exigências dos contextos educativos [5].
O foco da regulação emocional está na flexibilidade e capacidade da criança em conseguir ajustar-se às circunstâncias do momento pela modulação das suas emoções [6], nomeadamente, nas situações de frustração. Envolve a iniciação ou manutenção de estados emocionais positivos e a diminuição dos negativos em circunstâncias em que determinada emoção deixa de ser útil ou se mostra desajustada [7].
A investigação tem demonstrado que níveis mais elevados de regulação emocional estão associados a menos problemas de comportamento [8], a níveis mais elevados de competência e aceitação social [9] e a relações diádicas educador/a-criança mais próximas e menos conflituosas [10].
O desenvolvimento da regulação emocional é igual para todas as crianças?
O desenvolvimento de competências de regulação emocional mostra-se, porém, mais desafiante para as crianças expostas a diversos fatores de risco familiar e social (por exemplo, pobreza, monoparentalidade, baixo nível de escolaridade dos pais e das mães, conflitos parentais, maus-tratos). Contudo, numa investigação desenvolvida em Portugal [10], as crianças que estavam em maior risco sociocultural, mas que estavam integradas em salas em que o clima emocional era mais positivo e onde havia maior cooperação entre os pares, apresentaram, em média, níveis mais elevados de regulação emocional.
Podemos ajudar as crianças a regular as suas emoções?
As crianças podem precisar de suporte externo para regularem as suas emoções. A par da família, o/a educador/a pode desempenhar um papel significativo ao ajudar, por exemplo, as crianças a controlar a sua raiva e a lidar com as situações de frustração de uma forma adequada. Algumas estratégias incluem: ajudar as crianças a identificar e a nomear emoções; reconhecer e reforçar quando as crianças permanecem calmas; ajudar as crianças a pensar em diferentes razões para ter acontecido determinada situação, preparando-as para responderem adequadamente a situações que provocam raiva e encorajando-as a recorrer a estratégias de autodiálogo positivo (Criança: “Respira três vezes”, “Eu consigo acalmar-me”) e de relaxamento para se manterem calmas; ser modelo para as crianças sempre que consegue permanecer calmo/a e não agressivo/a em resposta a determinada situação negativa (Educador/a: “É melhor eu parar, acalmar-me e relaxar um pouco antes de continuar.”) [11].
Como procura ajudar as crianças a regular as suas emoções? Considera que as emoções são importantes para as crianças se adaptarem? As situações de frustração e raiva são as mais difíceis de gerir na rotina diária da sua sala? Como as suas vivências e práticas são uma mais-valia, aguardamos a sua reflexão.
Numa próxima publicação iremos retomar e desenvolver em mais detalhe as estratégias referidas anteriormente. Continue a visitar-nos!
Margarida Fialho, ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa
Referências
[1] OECD (2015). Skills for Social Progress: The Power of Social and Emotional Skills. Paris: OECD Skills Studies, OECD Publishing.
[2] Abe, J. A., & Izard, C. E. (1999). A longitudinal study of emotion expression and personality relations in early development. Journal of Personality and Social Psychology, 77(3), 566-77. doi:10.1037/0022-3514.77.3.566
[3] Ackerman, B. P., & Izard, C. E. (2004). Emotion cognition in children and adolescents: Introduction to the special issue. Journal of Experimental Child Psychology, 89(4), 271–275. doi:10.1016/j.jecp.2004.08.003
[4] Thompson, R. A. (1994). Emotion regulation: A theme in search of definition. In N. A. Fox (Ed.), The development of emotion regulation: Biological and behavioral considerations. Monographs of the Society for Research in Child Development, 59(2/3), 25-52.
[5] Cole, P. M., Marin, S. E., & Dennis, T. A. (2004). Emotion regulation as a scientific construct: Methodological challenges and directions for child development research. Child Development, 75(2), 317-333. doi:10.1111/j.1467-8624.2004.00673.x
[6] Bridges, L. J., Denham, S. A., & Ganiban, J. M. (2004). Definitional Issues in Emotion Regulation. Child Development, 75, 340-345. doi:10.1111/j.1467-8624.2004.00675.x
[7] Gross, J.J. (1999). Emotion Regulation: Past, Present, Future. Cognition and Emotion, 13, 551-573. doi:10.1080/026999399379186
[8] Cole, P. M., Zahn-Waxler, C., Fox, N. A., Usher, B. A., & Welsh, J. D. (1996). Individual differences in emotion regulation and behavior problems in preschool children. Journal of Abnormal Psychology, 105, 518–529. doi:10.1037/0021-843X.105.4.518
[9] Kim, J. & Cicchetti, D. (2010). Longitudinal pathways linking child maltreatment. emotion regulation, peer relations, and psychopathology. Journal of Child Psychology and Psychiatry, 51, 706-716. doi:10.1111/j.1469-7610.2009.02202.x
[10] Cadima, J., Ferreira, T., Guedes, C., Vieira, J., Leal, T., & Matos, P. M. (2016). Risco e regulação emocional em idade pré-escolar: A qualidade das interações dos educadores de infância como potencial moderador. Análise Psicológica, 3(34), 235-248. doi:10.14417/ap.1079
[11] Webster-Stratton, C. (2017). Como promover as competências sociais e emocionais das crianças. Braga: Psiquilíbrios Edições.
Achei o tema muito pertinente e adorei a forma como está escrito. É importante que os educadores estejam conscientes que podem fazer um trabalho muito importante e até bonito no que diz respeito à regulação emocional, assim como nós, pais. Parabéns pelo profissionalismo!
Muito obrigada pela sua partilha. Tanto a família como os/as educadores/as de infância podem, efetivamente, ter um papel muito importante na regulação das emoções das crianças. Numa próxima publicação iremos explorar, com mais detalhe, alguns exemplos de estratégias. Continue a acompanhar-nos!
Artigo muito pertinente na nossa sociedade atual. Fico à espera do desenvolvimento do tema com estratégias/ atividades para os educadores desenvolverem em sala ou para o pais utilizarem em casa…
Muito obrigada pelo seu comentário! Esperamos que as nossas publicações continuem a ser do seu interesse.