Nunca tentei isso antes, por isso acredito que devo ser capaz de o fazer!
Esta frase pertence à Pipi das Meias Altas, a personagem principal de uma série de livros para a infância da autora sueca Astrid Lindgren. É uma frase muito otimista e ousada. Mas, o que podemos aprender com ela?
Autoeficácia
A frase da Pipi das Meias Altas diz respeito ao conceito de autoeficácia. Autoeficácia [1] refere-se ao julgamento que cada pessoa faz sobre as suas próprias capacidades. É uma crença; portanto, não se trata de quão competente se é como profissional, mas de quão competente se sente. Mas, em contraste com a frase da Pipi das Meias Altas, as nossas crenças de autoeficácia podem ser profecias autorrealizáveis que são afetadas pela quantidade de prática que a pessoa já teve. Se perceber que a sua prática pedagógica é bem-sucedida, os seus sentimentos de autoeficácia tendem a aumentar, o que por sua vez aumenta as suas hipóteses de sucesso futuro. Do mesmo modo, se considerar que o seu desempenho não foi bem-sucedido, os seus sentimentos de autoeficácia tendem a diminuir o que contribui negativamente para as suas expectativas futuras quanto ao seu desempenho.
Os resultados dos estudos sobre a autoeficácia dos/as educadores/as mostram que se trata de um importante preditor do seu comportamento na sala. Os/as educadores/as com convicções mais positivas de autoeficácia proporcionam um melhor apoio emocional às crianças [2] e são mais eficazes a lidar com comportamentos problemáticos na sala [3]. Por conseguinte, é importante apoiar os/as educadores/as no desenvolvimento de crenças positivas de autoeficácia.
As convicções de autoeficácia não são definitivas e podem mudar com o tempo. Além disso, podem variar em função das atividades ou situações. Por exemplo, pode sentir-se mais competente como profissional quando está a ler para as crianças do que quando se está a envolver no seu jogo dramático. Pode também reconhecer que se sente mais, ou menos, competente em lidar com crianças específicas. Talvez se sinta mais inseguro/a ao lidar com crianças com certos problemas de comportamento, ou talvez se sinta mais competente em geral ao ensinar raparigas em comparação com rapazes.
Tire um momento para refletir sobre as suas crenças de autoeficácia. Quão competente se sente como profissional? Existem crianças específicas ou situações em que se sinta mais, ou menos, eficaz? Fale sobre isto com os/as seus/suas colegas. Será que se sentem menos eficazes nas mesmas situações ou que poderiam aprender em conjunto?
Autoeficácia em salas com diversidade
A investigação também mostra que os/as educadores/as diferem nas suas crenças de autoeficácia quando se trata de trabalhar com crianças de origens culturais e linguísticas diversas [4]. Sentir-se competente como educador/a em geral não implica automaticamente que se sinta igualmente confiante no apoio ao desenvolvimento de crianças de diferentes proveniências. Na verdade, os resultados dos estudos mostram que os/as educadores/as têm crenças de autoeficácia menos positivas quando se trata de lidar com a diversidade cultural e linguística. Então, o que afeta estas crenças de autoeficácia relacionadas com a diversidade e, mais importante ainda, como podemos apoiar crenças de autoeficácia positivas?
Aumentar a sua autoeficácia relacionada com a diversidade
As suas crenças de autoeficácia são afetadas pelas suas experiências. O mesmo se aplica à autoeficácia relacionada com a diversidade. O nível e o tipo de experiência que teve ao trabalhar com crianças de diversas origens pode afetar as suas convicções de autoeficácia. Os/as educadores/as que trabalham em salas mais diversificadas sentem-se geralmente mais eficazes no apoio a crianças com proveniências diversas. Assim, ganhar experiência numa sala diversificada é importante, embora não garanta crenças de elevada eficácia. É de especial importância que se envolva em atividades que se centrem na diversidade. Os/as educadores/as com níveis de autoeficácia mais elevados no que diz respeito à diversidade estão mais frequentemente empenhados/as em atividades interculturais em grupo. São atividades em que se presta atenção a diferentes normas e valores, atividades que enriquecem o conhecimento sobre as diferentes culturas por parte das crianças, ou que utilizam materiais que refletem a diversidade na sociedade.
Tais atividades interculturais não são apenas importantes em salas com muita diversidade. A educação de infância desempenha um papel importante na preparação de todas as crianças para uma sociedade cada vez mais diversificada. Por conseguinte, é importante que todos/as os/as educadores/as se sintam competentes para lidar com a diversidade. A melhor forma de o conseguir é criando experiências bem-sucedidas no trabalho com a diversidade, para que possam reforçar as suas crenças de autoeficácia a este respeito.
Três dicas para construir as suas crenças sobre a autoeficácia em matéria de diversidade:
– A sua sala não é muito diversa? Veja se existe outra sala na sua instituição com mais diversidade de crianças em termos culturais e linguísticos. Talvez possa observar os/as seus/suas colegas e adquirir alguma experiência nestas salas. Ou falar com os/as seus/suas colegas sobre como ajustam os seus currículos e práticas às características das suas crianças.
– Toda a instituição é pouco diversa? Tente encontrar oportunidades de ganhar experiência com a diversidade fora do seu ambiente de trabalho. Talvez possa obter alguma experiência em intercâmbios com outras escolas? Ou conhecer organizações locais que o/a possam pôr em contacto com crianças e pais de origens culturais e linguísticas diversas. Pode também inscrever-se em ações de voluntariado nesta área, por exemplo, tornando-se companheiro/a de leitura para famílias multilingues.
– Procure oportunidades de desenvolvimento profissional. Talvez possa fazer disto um tópico explícito para a formação ou organizar uma reunião com os/as seus/suas colegas para discutir este assunto.
Mensagem original escrita por Bodine Romijn (Universidade de Utrecht). Tradução e adaptação de Miguel Santos.
Referências:
[1] Tschannen-Moran, M. & Hoy, A. W. (2001). Teacher efficacy: Capturing an elusive construct. Teaching and Teacher Education, 17(7), 783-805. doi:10.1016/s0742-051x(01)00036-1
[2] Guo, Y., Piasta, S. B., Justice, L. M., & Kaderavek, J. N. (2010). Relations among preschool teachers’ self-efficacy, classroom quality, and children’s language and literacy gains. Teaching and Teacher education, 26(4), 1094-1103. doi:10.1016/j.tate.2009.11.005
[3] Almog, O., & Shechtman, Z. (2007). Teachers’ democratic and efficacy beliefs and styles of coping with behavioural problems of pupils with special needs. European Journal of Special Needs Education, 22(2), 115-129. doi:10.1080/08856250701267774
[4] Romijn, B. R., Slot, P. L., Leseman, P. P., & Pagani, V. (2020). Teachers’ self-efficacy and intercultural classroom practices in diverse classroom contexts: A cross-national comparison. International Journal of Intercultural Relations, 79, 58-70. doi:10.1016/j.ijintrel.2020.08.001