Os educadores, e todos os profissionais que trabalham com crianças, têm um papel crucial na promoção de um desenvolvimento saudável e, consequentemente, podem contribuir para uma sociedade também ela mais saudável. O bem-estar dos profissionais de educação impacta não só o clima e a cultura escolares, como o desenvolvimento académico, pessoal e emocional das crianças [1]. Ao mesmo tempo, os profissionais de educação dispõem, frequentemente, de poucas ferramentas que lhes permitam usufruírem de um maior bem-estar, não tendo muitas vezes acesso a recursos para identificar as suas necessidades emocionais [2] e responder a essas necessidades. Torna-se, assim, urgente o enfoque no seu bem-estar, nomeadamente através da disponibilização de ferramentas de autocuidado, inteligência emocional e competências de comunicação [3, 4].

Como aumentar a mala de ferramentas para potenciar o bem-estar dos educadores de infância?

Além das estratégias de que todos ouvimos falar mais frequentemente (como a importância de um sono reparador, da atividade física, entre outros), deixamos outra sugestão: experimentar incluir micropausas no seu dia. Pequenas pausas podem fazer toda a diferença para repor os nossos níveis de energia e nos regularmos. É importante lembrar que cinco minutos do nosso tempo correspondem apenas a 0,3% de 24 horas disponíveis num dia, por isso, basta tirar alguns minutos e experimentar pôr em prática. Podemos refletir sobre o que funciona para nós: algumas estratégias podem passar por alongar um pouco o corpo, dançar ou rir uns minutos, ler algumas páginas de um livro de que gostemos, beber um chá, fazer uma caminhada breve, apanhar um pouco do sol da manhã, fazer uma prática de meditação ou qualquer outra atividade que sintamos que nos dá um novo fôlego para o resto do dia [5, 6, 7, 8].

E a regulação emocional das crianças?

As crianças necessitam também que os adultos à sua volta as apoiem no desenvolvimento de competências de regulação emocional e comportamental [8, 9].

Assim, como se pode ajudar a criança a aprender a regular-se?

  • Prevenindo potenciais comportamentos desafiantes
    • Responder às necessidades fisiológicas e emocionais da criança;
    • Mostrar interesse pelo que a criança faz e partilha;
    • Reconhecê-la com frequência (dizendo, por exemplo, “Reparei que hoje já conseguiste dobrar sozinho os papéis”; “Queres explicar-me como fizeste essa construção?”).

  • Apoiando e encorajando as crianças na exploração do mundo à sua volta
    • Observar a criança enquanto explora;
    • Usufruir e divertir-se nesta exploração;
    • Protegê-la de potenciais perigos;
    • Ajudá-la se e quando necessário.

  • Estando presentes e mostrando-nos disponíveis quando a criança precisa de se regular novamente
    • Proteger, confortar e apoiar a criança a reorganizar sentimentos e experiências que a possam ter desregulado (como uma situação em que se tenha sentido frustrada ou com medo, por exemplo)
    • Dar nome/etiquetar o que a criança possa estar a sentir, sem qualquer julgamento associado, como “sentes-te zangado porque querias muito brincar com aquele brinquedo agora?”

É através desta diversidade de estratégias, utilizadas com frequência, que as crianças se vão organizando internamente para aprender a gerir emoções em si próprias e nas relações [9].

O papel dos profissionais no apoio a mães e pais

Por fim, devemos relembrar a importância que mães e pais têm num desenvolvimento saudável e, por isso, também o nosso papel enquanto profissionais, ao formar equipa com as famílias, apoiando-as num papel tão exigente.

Como todos nós, também as mães e os pais podem ativar as suas necessidades de proteção e conforto adotando, por vezes, uma postura defensiva quando não se sentem seguros, nomeadamente em interação com os profissionais que acompanham os seus filhos e filhas. Assim, importa providenciar um ambiente de não-julgamento e base segura para permitir que estejam, também eles, abertos a explorar, aprender e desenvolver outras estratégias na educação dos seus filhos e filhas. É importante que mães e pais nos vejam como profissionais respeitadores, gentis e interessados.

Porque, como indica o título, precisamos estar mais presentes, connosco, com as mães e pais e, claro, com as crianças!

Referências

  1. Sackney, L., Noonan, B., & Miller, C.M. (2000). Leadership for educator wellness: An exploratory study. International Journal of Leadership in Education, 3, 41-56.
  2. Taxer, J.L. & Frenzel, A.C. (2015). Facets of teachers’ emotional lives: A quantitative investigation of teachers’ genuine, faked, and hidden emotions. Teaching and Teacher Education, 49, 78-88.
  3. Perry, M., Creavey, K., Arthur, E., Humer, J., Rivera,I. (2020). Cultivating emotional intelligence in child welfare professionals: A systematic scoping review, Child Abuse & Neglect, Volume 110, https://doi.org/10.1016/j.chiabu.2020.104438.
  4. Morris, R.C. & Devane, S. (1994). An “integrated” wellness model for effectively coping with stress in teaching. Thresholds in Education, 20, 30-34.
  5. Matos, M., Duarte, C., Duarte, J. et al. (2017) Psychological and Physiological Effects of Compassionate Mind Training: a Pilot Randomised Controlled Study. Mindfulness 8, 1699–1712 https://doi.org/10.1007/s12671-017-0745-7
  6. vanOyen Witvliet, C., Hofelich Mohr, A. J., Hinman, N. G., & Knoll, R. W. (2015). Transforming or restraining rumination: The impact of compassionate reappraisal versus emotion suppression on empathy, forgiveness, and affective psychophysiology. The Journal of Positive Psychology, 10(3), 248-261. 
  7. Weng, H. Y., Fox, A. S., Shackman, A. J., Stodola, D. E., Caldwell, J. Z., Olson, M. C.,Rogers, G. M., and Davidson, R. J. (2013). Compassion training alters altruism and neural responses to suffering. Psychological Science, 24(7), 1171-1180.
  8.  Carvalho, J. (2020). “Cultivar Mindfulness em contexto educacional : As abordagens baseadas em Mindfulness na promoção de competências socioemocionais e do bem-estar, nos alunos e nos professores”. Doutoramento, Universidade de Lisboa Faculdade de Psicologia. http://hdl.handle.net/10451/45286.
  9. Cassidy, J. (2016). “The nature of child’s ties”. In J. Cassidy e P. Shaver (Eds.), Handbook of attachment: Theory, research, and clinical applications (págs. 3-24). Nova York, NY: Guilford.

Trabalhar com Crianças: Ser (um) presente

Jordana Cardoso

Psicóloga Especialista em Psicologia Clínica e da Saúde, Doutorada em Psicologia do Desenvolvimento, Docente Universitária no ISPA-IU e Formadora Certificada. Autora de cursos presenciais e online na área do desenvolvimento infantil, parentalidade, inteligência emocional e gestão do stress e autocuidado, participa frequentemente como oradora em encontros e colóquios, colaborando também com os media. Conta com diversas publicações científicas nacionais e internacionais.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *