Após vivermos um período de confinamento, com limitações no uso dos espaços exteriores, questionamo-nos sobre quão importante é para as crianças, principalmente em idades mais precoces, disfrutarem do recreio ao ar livre na creche ou no jardim de infância.

Tempo ao ar livre na primeira infância

As evidências sugerem que, atualmente, as crianças brincam menos ao ar livre do que as das gerações anteriores [1] e passam, em média, mais horas ao longo do ano em frente à televisão e à frente de outros ecrãs do que na escola [2]. Portugal acompanha esta tendência, passando as crianças, em média, 16 a 30 minutos ao ar livre nas creches [3].

Tempo ao ar livre: algumas das vantagens

A literatura científica, no entanto, identifica inúmeras vantagens do tempo passado ao ar livre, a nível físico, psicológico e social [4] e mesmo no que diz respeito ao progresso académico [5]. Especificamente, na Educação de infância, brincar ao ar livre está associado a efeitos positivos na saúde, contribuindo para o desenvolvimento dos ossos, fortalecimento do sistema imunitário e atividade física, etc. [6]. Também já se refletiu sobre as vantagens da utilização do espaço exterior na publicação https://primeirosanos.iscte-iul.pt/2020/09/16/redescobrir-o-espaco-exterior-durante-a-pandemia-covid-19/


Dificuldades apontadas pelos educadores de infância

Um inquérito realizado a educadores/as de infância indicou que os fatores apontados como barreiras às brincadeiras nos espaços exteriores na educação de infância são [7]:

  • Tempo limitado
  • Falta de espaço adequado
  • Questões de saúde e segurança

Conclusão

Após um período em que o acesso a espaços exteriores foi limitado, é premente considerar os benefícios reais que as brincadeiras ao ar livre trazem às crianças em idade pré-escolar, podendo ser tiradas duas constatações fundamentais:

  1. Os/as educadores/as de infância têm a perceção de que as crianças passam pouco tempo ao ar livre.
  2. Os benefícios para as crianças parecem claros: melhorias nas relações sociais, melhorias no desenvolvimento psicológico e físico, contrariando a falta de atividade física prevalente no mundo e, em particular, em Portugal. 

Reflita connosco

  • Considero importante que as crianças da minha sala estejam ao ar livre?
  • Quanto tempo passam as minhas crianças no exterior, durante o tempo em que estão na creche / no jardim de infância?
  • Faço-lhes propostas interessantes quando estamos no exterior?

“Brincar é o estádio mais elevado do desenvolvimento da criança …, o mais puro, o produto mais espiritual do Homem neste estádio, e ao mesmo tempo é a prefiguração e imitação da vida humana total – da vida interior, secreta e natural em um Homem e em todas as coisas. Produz, portanto, alegria, liberdade, satisfação, repouso interno e externo, paz com o mundo”. [8]

Referências

[1] Clements R. (2004). An investigation of the status of outdoor play. Contemporary Issues in Early Childhood, 5(1), 68-80. https://doi.org/10.2304/ciec.2004.5.1.10

[2] Suárez Valero J. L. (2010). Televisión, consumo y niños. Teorías, estudios y efectos. CS-F Enseñanza.

[3] Bento, G., & Dias, G. (2017). The importance of outdoor play for young children’s healthy development. Porto biomedical journal, 2(5), 157-160. https://doi.org/10.1016/j.pbj.2017.03.003

[4] Lorenzo, E., Corraliza, J. A., Collado, S., & Sevillano, V. (2016). Preference, restorativeness and perceived environmental quality of small urban spaces / Preferencia, restauración y calidad ambiental percibida en plazas urbanas. Psyecology, 7(2), 152–177. https://doi.org/10.1080/21711976.2016.1149985

[5] Sando, O. J. (2019). The outdoor environment and children’s health: a multilevel approach. International Journal of Play8(1), 39-52. https://doi.org/10.1080/21594937.2019.1580336

[6] Bilton, H. (2010). Outdoor learning in the early years. Management and innovation. Routledge.

[7] Kalpogianni, D. E. (2019). Why are the children not outdoors? Factors supporting and hindering outdoor play in Greek public day-care centres. International Journal of Play, 8(2), 155-173. https://doi.org/10.1080/21594937.2019.1643979

[8] Fröbel, F. (1826). The education of man. Amer

O recreio: um requisito para uma educação infantil de qualidade

Andrea Otero Mayer

Andrea é doutoranda na Universidade Nacional de Educação a Distância da Espanha (UNED) graças a um contrato de formação de equipe de pesquisa. Possui diversos prêmios, como o Prêmio Extraordinário da universidade. Fez várias estadias em universidades estrangeiras, como a Universidade de Quilmes, em Buenos Aires, Argentina ou a Universidade do Porto, em Portugal. Seus principais interesses de pesquisa são a qualidade da educação infantil, a relação família-escola, a formação de professores de educação infantil.

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