Crescer com os outros é desafiante! Fazer amigos. Partilhar. Expressar emoções. Cuidar de alguém que foi magoado. Esperar pacientemente. Apreciar a companhia de outros. Lidar com sucesso com os desafios diários. Estes e outros aspetos revelam um desenvolvimento social e emocional positivo.
Num mundo diverso e em incrível mudança, cada vez mais é valorizada a promoção de competências sociais e emocionais nas crianças em idade pré-escolar. As competências cognitivas, sociais e emocionais (por exemplo, empatia, regulação emocional, assertividade) não trabalham isoladamente, mas interagem e potenciam a probabilidade de as crianças alcançarem resultados positivos ao longo da sua vida [1].
O que são competências sociais e emocionais?
Dizem respeito à capacidade da criança para experienciar, gerir e expressar as suas emoções; desenvolver relações positivas com os seus pares e com os adultos com quem interage (por exemplo, pais e educadores/as de infância); explorar o ambiente com curiosidade e confiança; e resolver, de uma forma adequada e eficaz, os desafios diários (por exemplo, através da cooperação com os pares, da criação de novas soluções para os desafios) [2].
O desenvolvimento destas competências começa nos primeiros meses de vida, mas continua através da infância e adolescência, influenciado pelos contextos sociais, sejam eles a família, jardim de infância, escola, e pelas relações e interações sociais estabelecidas [3]. Também as Orientações Curriculares para a Educação Pré-Escolar [4] expressam a relevância destes contextos e relações: “é nos contextos sociais em que vive, nas relações e interações com outros e com o meio que a criança vai construindo referências, que lhe permitem tomar consciência da sua identidade e respeitar a dos outros, desenvolver a sua autonomia como pessoa e como aprendente, compreender o que está certo e errado, o que pode e não pode fazer, os direitos e deveres para consigo e para com os outros, valorizar o património natural e social. (…) reconhecendo e respeitando valores que são diferentes dos seus” (p.33).
Qual a sua importância?
O desenvolvimento de competências para se controlarem, regularem as suas emoções e comportamentos, aprenderem a serem resilientes, otimistas, empáticas, cooperativas e melhorarem a sua autoestima e autoeficácia não só é importante para o bem-estar das crianças, como também para o desenvolvimento de comunidades e sociedades mais amplas e vistas como um todo [1, 5]. Por exemplo, o otimismo e a autoeficácia estão associados a menos problemas de saúde mental [5] e os comportamentos disruptivos são influenciados pela empatia social e pela regulação de emoções [6]. A investigação tem, igualmente, demonstrado que as atividades que implicam cooperação entre os pares podem ter fortes efeitos positivos no desenvolvimento das crianças com incapacidades, em particular, das crianças com autismo [7].
Como podemos promover as competências sociais e emocionais?
As crianças têm a capacidade de experienciar emoções, mas como as experienciam e aprendem a geri-las pode depender da relação com os adultos com quem interagem [8]. O jardim de infância, a par do contexto familiar, é um ambiente privilegiado que pode ajudar a promover o desenvolvimento adequado das crianças e, em especial, das suas competências sociais e emocionais [9, 10]. Criar as condições certas para o seu desenvolvimento precoce é mais eficaz e menos dispendioso do que tentar solucionar os problemas anos mais tarde [11]. Deste modo, partilhamos algumas estratégias que o/a podem ajudar a promover as competências sociais e emocionais das crianças da sua sala:
Ajudar as crianças a reconhecer e a compreender as emoções e os sentimentos
- Encorajar a criança a usar várias palavras para descrever como se está a sentir e como os outros se estão a sentir, “Estás a ver a cara do João? Como achas que se sentiu?”, chamando a atenção para a expressão facial, tom de voz, gestos.
- Exposição na sala de fotografias e/ou imagens que ilustrem diferentes emoções em diferentes pessoas.
Encorajar a formação de amizades
- Promover atividades que envolvem partilha e cooperação, como a construção com blocos, a pintura conjunta de um mural.
- Conversar com as crianças sobre os amigos, “O que é ser um bom amigo?”.
- Leitura de livros sobre amizade, que devem integrar diferenças individuais entre as personagens.
Ajudar as crianças a resolver os conflitos de uma maneira adequada
- Identificar o problema, encontrar possíveis soluções e consequências e decidir a solução.
- Dar resposta às ideias e aos esforços das crianças na resolução dos conflitos, “Já fui lá, mas ele continua a chorar”, “Então vamos as duas ver o que o Vicente tem para nos dizer”.
Ser modelo comportamental para as crianças, partindo da sua própria atuação
- Pedir desculpa. Pedir permissão, “por favor”. Agradecer, “obrigada/o”.
Criar uma rotina consistente e previsível (as crianças sentem-se seguras e confiantes)
- Elaboração com as crianças de um quadro onde possam registar as atividades diárias/semanais que irão realizar, as suas escolhas.
- Avisar com antecedência sobre as transições.
Como se expressam as competências sociais e emocionais na sua rotina? Considera que é reconhecida a sua importância nas salas de jardim de infância portuguesas? Ou o foco principal continua a ser a promoção das competências cognitivas/académicas? Partilhe a sua experiência.
Margarida Fialho, ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa
Referências
[1] OECD (2015). Skills for Social Progress: The Power of Social and Emotional Skills. Paris: OECD Skills Studies, OECD Publishing.
[2] Elias, M. J., Zins, J. E., Weissberg, R. P., Frey, K. S., Greenberg, M. T., Haynes, N. M., Kessler, R., Schwab-Stone, M. E., & Shriver, T. P. (1997). Promoting social and emotional learning: Guidelines for educators. Alexandria, VA: Association for Supervision and Curriculum Development.
[3] Jones, S. M., & Bouffard, S. M. (2012). Social and emotional learning in schools: From programs to strategies. Social Policy Report, 26(4), 1-33.
[4] Lopes da Silva, I., Marques, L., Mata, L., & Rosa, M. (2016). Orientações Curriculares para a Educação Pré-Escolar. Lisboa: Ministério da Educação, Direção-Geral da Educação (DGE).
[5] Goldman, E., Stamler, J., Kleinman, K., Kerner, S., & Lewis, O. (2016). Child mental health: Recent developments with respect to risk, resilience, and interventions. In M. R. Korin (Ed.), Health Promotion for Children and Adolescents (99-123). Boston, MA: Springer.
[6] Heckman, J. J. (2006). Skill formation and the economics of investing in disadvantaged children. Science, 312, 1900-1902. doi:10.1126/science.1128898
[7] Bass, J. D., & Mulick, J. A. (2007). Social play skill enhancement of children with autism using peers and siblings as therapists. Psychology in the Schools, 44, 727-735. doi:10.1002/pits.20261
[8] Durlak, J. A., Weissberg, R. P., Dymnicki, A. B., Taylor, R. D., & Schellinger, K. B. (2011). The impact of enhancing students’ social and emotional learning: A meta-analysis of school-based universal interventions. Child Development, 82, 405-432. doi:10.1111/j.1467-8624.2010.01564.x
[9] Denham, S. A., Bassett, H. H., & Zinsser, K. (2012). Early childhood teachers as socializers of young children’s emotional competence. Early Childhood Education Journal, 40 (3), 137–143. doi:10.1007/s10643-012-0504-2
[10] Curby, T. W., Brock, L. L., & Hamre, B. K. (2013). The role of consistency in preschool teacher-child interactions. Early Education and Development, 24, 292–309. doi:10.1080/10409289.2012.665760
[11] National Scientific Council on the Developing Child (2007). The Science of Early Childhood Development: Closing the Gap Between What We Know and What We Do. Disponível em www.developingchild.harvard.edu.
Pingback:A educação de infância e os objetivos de desenvolvimento sustentável | Primeiros Anos
Pingback:À beira de um ataque de nervos? Como lidar com os comportamentos desafiantes das crianças | Primeiros Anos