As creches e os jardins de Infância são organizações e, em todas as organizações, a qualidade da liderança importa. Assim, devemos perguntar: Que tipos de liderança podem existir em educação de infância? Que competências devem ter os/as profissionais em posições de liderança nas creches e nos jardins de infância? Quais as especificidades da liderança em educação de infância?
Tipos de liderança em educação de infância
A liderança em educação de infância pode assumir diferentes formas, que podem implicar diferentes tipos de competências e formação [1, 2]:
- Liderança comunitária: estabelecer ligações entre a instituição e a comunidade, construindo ligações entre as famílias, os serviços e os sectores público e privado.
- Liderança pedagógica: estabelecer pontes entre a investigação e a prática, disseminando nova informação e definindo objetivos pedagógicos.
- Liderança administrativa: gerir o pessoal e o orçamento.
- Liderança “política”: criar uma visão para o futuro da educação de infância a longo prazo. Implica uma boa compreensão da situação, da legislação e dos media bem como competências de comunicação.
- Liderança conceptual: conceptualizar a liderança em educação de Infância no contexto dos movimentos e mudanças sociais.
Competências de liderança em educação de infância
A liderança em educação de infância vai muito além de modelos tradicionais, emprestados de outras áreas profissionais, marcadamente hierárquicos, e que valorizam o desempenho individual, a competição, a certeza nos processos de tomada de decisão, a autoridade sobre os outros e a progressão na carreira. Em educação de infância, os/as profissionais têm identificado outro tipo de competências e atitudes de um/a líder eficaz [3, 4, 5, 6, 7]. Destacamos 13 competências e atitudes:
- Ser paciente, afetuoso/a e amável;
- Ter uma visão e cumpri-la;
- Ser comprometido/a com os objetivos da instituição e com a missão da educação de infância;
- Ser orientado/a para objetivos, com base em planeamento, assertividade e confiança;
- Estabelecer relações positivas com os/as profissionais, ouvindo-os/as e envolvendo-os/as na tomada de decisões;
- Investir no próprio desenvolvimento profissional;
- Desenvolver uma comunidade de aprendizagem;
- Reconhecer as forças e as limitações dos outros;
- Confiar nos/as profissionais e proporcionar-lhes o tempo e os recursos necessários para serem bem-sucedidos/as;
- Ser responsivo/a às necessidades das famílias e ser capaz de comunicar com elas;
- Estabelecer ligações entre a instituição e a comunidade;
- Defender os interesses das crianças, da instituição e da comunidade;
- Promover a participação e a liderança das próprias crianças.
Naturalmente, é possível identificar várias barreiras ao desenvolvimento de competências de liderança em educação de infância, incluindo a falta de uma definição comum do conceito de liderança, as oportunidades limitadas de progressão na carreira e as reduzidas oportunidades de formação específica. Contudo, a investigação encontrou associações entre as caraterísticas dos/as profissionais em posições de liderança e a qualidade dos contextos de educação de infância [8], o que justifica que se dedique mais atenção a esta importante dimensão.
Complexidades da liderança em educação de infância
A liderança em educação de infância é participativa, descentralizada, colaborativa e situada. Baseia-se no acesso a conhecimentos e práticas pedagógicas; no uso de competências de reflexão, análise e colaboração; e na promoção da aprendizagem e desenvolvimento profissional de outros [8].
Trata-se, assim, de um processo dinâmico, socialmente construído, situado e informado pela cultura. Consequentemente, constitui um processo necessariamente complexo, que envolve ambiguidade e incerteza, negociação de tensões e questionamento constante acerca das próprias crenças e práticas. Se se assumir uma ação orientada para a justiça social como objetivo, esse questionamento constante é essencial para analisar que vozes são privilegiadas e que vozes são silenciadas; para analisar as dinâmicas de poder e confiança; e para identificar os riscos e as oportunidades que vão emergindo [9].
Um aspeto importante da análise da liderança em educação de infância diz respeito às múltiplas identidades dos/as profissionais. Educadores/as de infância que exercem funções de coordenação têm de navegar entre os dois papeis, assumindo uma dupla identidade [8, 10]. A investigação sugere que pode ser difícil integrar esta dupla identidade no contexto do trabalho em equipa. Nestes casos, pode ser útil proporcionar o envolvimento em diálogos críticos que desafiem noções tradicionais e introduzam possibilidades alternativas de liderança, mais coerentes com o trabalho colaborativo [10].
Para refletir…
Na sua opinião, que tipo de liderança é necessária em educação de infância? Que condições favorecem esse tipo de liderança? O que é que ainda precisamos de saber sobre a liderança em educação de infância?
Referências
[1] Muijs, D., Aubrey, C., Harris, A., & Briggs, M. (2004). How do they manage? A review of the research on leadership in early childhood. Journal of Early Childhood Research, 2(2), 157-169.
[2] Kagan, S. L., & Hallmark, L. G. (2001). Cultivating leadership in early care and education. Child Care Information Exchange, 140, 7–10.
[3] Hatherley, A., & Lee, W. (2003). Voices of early childhood leadership. New Zealand Journal of Educational Leadership, 18, 91–100.
[4] Rodd, J. (1996). Towards a typology of leadership for the early childhood professional of the 21st century. Early Childhood Development and Care, 120, 119–26.
[5] Bloom, P. J. (1997). Navigating the rapids: Directors reflect on their career and professional development. Young Children, 52(7), 32–8.
[6] Carter, M. (2000). What do teachers need from their directors? Child Care Information Exchange, 136, 98–101.
[7] Rodd, J. (2012). Leadership in early childhood. McGraw-Hill Education (UK).
[8] Nicholson, J., Kuhl, K., Maniates, H., Lin, B., & Bonetti, S. (2020). A review of the literature on leadership in early childhood: examining epistemological foundations and considerations of social justice. Early Child Development and Care, 190(2), 91-122. DOI: 10.1080/03004430.2018.1455036
[9] Helstad, K., & Møller, J. (2013). Leadership as relational work: risks and opportunities. International Journal of Leadership in Education, 16(3), 245-262. DOI: 10.1080/13603124.2012.761353
[10] Cooper, M. (2020). Teachers grappling with a teacher-leader identity: complexities and tensions in early childhood education. International Journal of Leadership in Education. DOI: 10.1080/13603124.2020.1744733