Na Noruega, à semelhança do que acontece noutros países nórdicos, as crianças têm a possibilidade de frequentar jardins de infância na floresta. Visitámos recentemente um destes jardins, no âmbito de uma conferência que teve lugar em Oslo [1]. É esta visita que partilhamos consigo nesta publicação.
Jardins na floresta: o exterior como ambiente pedagógico
A realização de atividades físicas no exterior está fortemente enraizada na cultura norueguesa [2]. Os jardins de infância não são exceção e, mesmo nos jardins mais convencionais, as crianças passam grande parte do tempo no exterior: 70% durante os meses de verão, e 30% durante os meses de inverno [3]. O exterior é entendido como espaço pedagógico no qual a criança pode brincar, aprender e desenvolver-se. Alguns jardins preveem ainda que, aos 5 anos, as crianças passem uma semana num jardim de infância na floresta, por cada duas semanas passadas no jardim mais convencional.
Na imagem é visível o caminho para o jardim de infância na floresta, também designado jardim de infância da natureza, ou da praia.
Como funcionam e estão organizados estes jardins?
Geralmente, os jardins de infância da floresta acolhem, em cada semana, um grupo de 12 crianças com proveniência de dois jardins de infância diferentes. Contrariamente aos jardins convencionais, estes não têm estrutura física, embora possam beneficiar de outras estruturas, públicas, existentes nas imediações.
Nestes jardins, as crianças distribuem-se em grupos mais pequenos, ocupando diferentes áreas. Por norma, existe um adulto responsável por cada grupo de 4 crianças. Frequentemente, os educadores têm formação em educação de infância, mas também em educação física. É igualmente comum encontrar educadores do sexo masculino nos jardins de infância da floresta.
Dentro de cada área, supervisionada por um educador, as crianças têm liberdade para explorar e brincar livremente. No entanto, apesar da inexistência de vedações ou barreiras físicas, as crianças sabem que não podem afastar-se do respetivo grupo/educador.
Na imagem é visível um grupo de quatro crianças que, acompanhado por um educador, desenvolve atividades junto à agua. As crianças estão, por isso, equipadas com coletes salva-vidas.
Na imagem, a educadora ensina uma criança a manusear a sua faca. Habitual neste tipo de jardins, a faca é adequada às crianças e usada para cortar pequenos troncos que serão usados, por exemplo, para aquecer alimentos na fogueira, à hora de almoço. Na mesma área, ao fundo, crianças brincam nas árvores, com ajuda de elásticos colocados para o efeito.
Nos jardins de infância da floresta, em vez de jogos ou bonecos, é comum encontrar baldes, camaroeiros, carros, pedras, troncos. Embora seja feito um planeamento semanal pelo educador responsável pelo jardim da floresta, em estreita cooperação com o educador responsável pelo jardim convencional, as atividades não são estruturadas e as crianças têm a possibilidade de brincar e explorar livremente o ambiente que as rodeia. Assim, animais, insetos e plantas podem desencadear a exploração de novos temas, partindo dos interesses e contributos das crianças.
À hora de almoço, a fogueira é acesa: crianças e educadores reúnem-se e, juntos, aquecem os seus almoços.
As crianças permanecem entre 5 a 7 horas por dia, neste tipo de jardins. Vários são os benefícios avançados, desde o desenvolvimento motor ao desenvolvimento cognitivo [2], embora mais investigação seja necessária, nesta área.
Numa próxima publicação abordaremos alguns princípios e valores subjacentes às pedagogias nórdicas. Até lá, partilhe connosco: o que pensa sobre estas abordagens? Conhece jardins de infância semelhantes? Temos, no nosso país, e nos nossos jardins de infância, condições para implementar algumas destas práticas?
[1] ececthenordicway.no
[2] Borge, A. I., Nordhagen, R., & Lie, K. K. (2003). Children in the environment: Forest day-care centers: Modern day care with historical antecedents. The History of the Family, 8(4), 605-618. doi: 10.1016/j.hisfam.2003.04.001
[3] Moser, T., & Martinsen, M. T. (2010). The outdoor environment in Norwegian kindergartens as pedagogical space for toddlers’ play, learning and development. European Early Childhood Education Research Journal, 18(4), 457-471. doi: 10.1080/1350293X.2010.525931
Inspiradora partilha! O que é que falta em Portugal para estas boas práticas serem implementadas? Nesta visita também estavam presentes educadores portugueses?
Um abraço!
Ana, obrigada pelo comentário!
Apesar de as Orientações Curriculares para a Educação Pré-Escolar salientarem, à semelhança das abordagens nórdicas, aspetos como a importância do espaço exterior, ou da consideração do direito de participação das crianças, a verdade é que estas práticas têm uma forte componente cultural associada, não sendo a sua transposição para a nossa realidade uma questão simples. No entanto, estas práticas poderão trazer novas perspetivas para a forma como educadores e outros profissionais do nosso país, presentes em número reduzido na conferência, pensam e diversificam as suas próprias práticas.
Em breve publicaremos também uma mensagem dedicada aos valores e princípios subjacentes às pedagogias nórdicas. Até breve!
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