As amizades são importantes para o bem-estar das crianças. Muitas vezes, é com o suporte dos amigos que as crianças se sentem confiantes para embarcar nas aventuras do dia-a-dia, adquirindo novas competências. Com suporte e encorajamento dos adultos, crianças com ou sem incapacidades podem desenvolver amizades que lhes proporcionam alegria e, simultaneamente, as ajudam a crescer e a desenvolver-se em diversos domínios.
O que nos diz a investigação sobre este tema?
A investigação tem demonstrado que as interações e as relações que se estabelecem em idade pré-escolar contribuem, de forma única, para o desenvolvimento das crianças. Para além de fonte de suporte emocional, as amizades são essenciais para o desenvolvimento de competências sociais [1] e estão relacionadas com uma boa adaptação escolar e social, e com o bem-estar psicológico das crianças [2]. As Orientações Curriculares para a Educação Pré-Escolar [3] realçam que a interação e a cooperação entre as crianças lhes permitem aprender umas com as outras, através da integração das suas diferenças.
Para melhor identificarmos e apoiarmos o estabelecimento de amizades, é importante ter em conta que uma relação de amizade é caracterizada por [4]:
- União – as crianças estão juntas ou próximas, embora não tenham necessariamente que fazer algo em conjunto;
- Semelhança – as crianças são observadas a fazer as mesmas coisas, a frequentar a mesma área ou a seguir-se de área para área, com intencionalidade;
- Afeto positivo – as crianças partilham sentimentos e comportamentos positivos como sorrir, rir ou abraçar.
Para além disso, tem um carácter [5]:
- Diádico – envolvendo duas crianças;
- Recíproco – no sentido em que cada criança considera a outra como sua amiga;
- Voluntário – partindo do interesse mútuo das crianças.
Estratégias para apoiar as amizades na sua sala
Deixamos-lhe algumas sugestões e propostas de reflexão:
Valorize a importância das amizades
- Converse com as crianças sobre o que é ser amigo, ou o que podem fazer para serem bons amigos.
- Leia, por exemplo, histórias sobre amizade, partilha e cooperação.
- Os familiares da criança têm um papel importante na promoção e facilitação de situações sociais [6]. Encoraje-os a promoverem oportunidades para que crianças amigas se relacionem fora do jardim de infância.
Ajude a identificar potenciais amigos
- Num estudo recente, as crianças mostraram preferir brincar com crianças que têm interesse pelas mesmas brincadeiras [7]. Ajude as crianças a identificarem estes interesses partilhados – “Achas que há algum menino que também goste de fazer puzzles?”.
- Crie oportunidades para, em grande ou pequeno grupo, as crianças verbalizarem aspetos positivos sobre os pares, e dê feedback positivo perante a identificação, por exemplo, de afeto ou de características psicológicas positivos.
- Dê liberdade às crianças para escolherem companheiros de brincadeira e de trabalho, incentivando-as, simultaneamente, a diversificar as suas escolhas.
Ajude as crianças a iniciarem e a manterem o jogo ou atividade
- Crianças com comportamentos pró-sociais são capazes de formar e manter amizades, assumindo atitudes positivas em relação aos outros, e sendo facilmente aceites pelos pares [8]. Incentive as crianças a cumprimentar, a oferecer um brinquedo, ou a oferecer ajuda, e valorize as suas iniciativas – “Gostei que tivesses ajudado a M. a acabar de arrumar”.
- Transmita a importância de pedir ou convidar diretamente outras crianças para participar numa determinada atividade, e de responder a comportamentos de procura de atenção por parte dos pares.
- Incentive as crianças a permanecerem dentro de um determinado tema de jogo, a exporem as suas preferências de forma assertiva e a concordarem com pedidos razoáveis dos pares, adaptando o jogo às capacidades de outras crianças – “A M. ainda não terminou, vamos ajudá-la?”.
Ajude a resolver conflitos
- Os conflitos são inerentes às relações de amizade e para que os possam resolver, as crianças necessitam de competências que lhes permitam fazer escolhas eficazes durante as suas interações com os outros [9]. Ajude as crianças a identificar o problema, bem como possíveis soluções e consequências, valorizando os seus esforços – “Já tentaste falar com o D.? Então vamos lá falar com ele e ver como podemos resolver”.
- Ensine-as a partilhar brinquedos e materiais, a pedir desculpa, ou a acalmar, trabalhando o autocontrolo.
- Incentive-as a identificar e mostrar empatia pelos sentimentos dos pares, colocando-se no lugar do outro.
Utilize materiais e atividades que promovam as interações
- O tipo e a quantidade de material disponível para as crianças podem influenciar as interações sociais que estas estabelecem [10]. Use triciclos de dois lugares, telefones, e crie uma área do cabeleireiro ou um pequeno mercado.
- Recorra a material adaptado, para que crianças com dificuldade de mobilidade possam movimentar-se e interagir com os amigos.
- Incentive a cooperação, por exemplo, na arrumação de brinquedos. A pintura conjunta de um mural, ou a realização de uma peça de teatro, são outras formas de promover interações entre as crianças, fomentando as amizades.
O/a educador/a de infância pode apoiar amizades já existentes, mas também o desenvolvimento de novas amizades [4]. De uma forma geral, é importante que as suas estratégias sejam individualizadas (atendendo às características da cada criança), comportamentais (exemplificando e reforçando comportamentos adequados), responsivas (promovendo suporte emocional) e planeadas (com recurso a materiais adequados, e regras claras e consistentes) [11].
Em que medida conhece as relações de amizade de cada criança do seu grupo? Costuma colocar alguma das estratégias sugeridas em prática? Que outras considera úteis? Partilhe connosco as suas experiências e perspetivas!
Referências
[1] Ladd, G. W. (2005). Children’s peer relations and social competence: A century of progress. New Haven, CT: Yale University Press.
[2] Odom, S. L., Zercher, C., Li, S., Marquart, J. M., Sandall, S., & Brown, W. H. (2006). Social acceptance and rejection of preschool children with disabilities: A mixed-method analysis. Journal of Educational Psychology, 98(4), 807-823. doi:10.1037/0022-0663.98.4.807.
[3] Lopes da Silva, I., Marques, L., Mata, L., & Rosa, M. (2016). Orientações Curriculares para a Educação Pré-Escolar. Lisboa: Ministério da Educação, Direção-Geral da Educação (DGE).
[4] Goldman, B. D., & Buysse, V. (2007). Friendships in very young children. In O. Saracho & B. Spodek (Eds.), Contemporary perspectives on research in socialization and social development (pp. 165–192). Greenich, CT: Information Age Publishing.
[5] Rubin, K. H., Bukowski, W. M., & Parker, J.G. (2006). Peer interactions, relationships and groups. In W. Damon (Series Ed.) & N. Eisenberg (Vol. Ed.), Handbook of Child Psychology: Vol. 3, Social, emotional and personality Development (6th ed., pp. 571-645). NY: Wiley. doi: 10.1002/9780470147658.chpsy0310.
[6] Guralnick, M. J. (1999). Family and child influences on the peer-related social competence of young children with developmental delays. Mental Retardation and Developmental Disabilities Research Reviews, 5(1), 21-29. doi: 10.1002/(SICI)1098-2779(1999)5:1<21::AID-MRDD3>3.0.CO;2-O.
[7] Pacheco, R. (2017) Fatores subjacentes às escolhas sociométricas de crianças em idade pré-escolar (Dissertação de Mestrado não publicada). ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa.
[8] Denham, S., Blair, K., DeMulder, E., Levitas, J., Sawyer, K., Auerbach-Major, S., & Queenan, P. (2003). Preschool emotional competence: Pathway to social competence? Child Development, 74(1), 238–256. doi: 10.2307/3696354.
[9] Gloeckler, L. R., Cassell, J. M., & Malkus, A. J. (2014). An analysis of teacher practices with toddlers during social conflicts. Early Child Development and Care, 184(5), 749–765. doi: 10.1080/03004430.2013.818988.
[10] Epstein, A. S. (2012). Social and emotional development. Ypsilanti, MI: HighScope Press.
[11] Fox, L., Dunlap, G., Hemmeter, M.L., Joseph, G.E., & Strain, P.S. (2003). The teaching pyramid: A model for supporting social competence and preventing challenging behavior in young children. Young Children, 58, 48-52. doi: 10.1002/cbl.20028.
Links úteis:
www.naeyc.org
http://www.child-encyclopedia.comhttp://www.child-encyclopedia.com
http://ecec-care.org/
Obrigada Nadine! Uma área de desenvolvimento com mais precalços do que eu esperava…
É verdade, Clara. Em publicações futuras pretendemos precisamente abordar algumas das especificidades e dos desafios desta área de desenvolvimento. Contamos com as tuas leituras e comentários!
Um artigo muito interessante! Nos dias de hoje, em que o papel dos pais se mistura saudavelmente com o das Educadoras é fulcral identificar-se quais os aspectos fundamentais em cada uma das fases do crescimento, trabalhá-los e adaptá-los a cada uma das crianças, mantendo e repeitando as suas características pessoais enquanto seres individuais. Brincar é fundamental! Vê-los partilhar, ganhar mecanismos e aptidões, ganhar consciência e empatia pelos outros, vê-los progredir e crescer dia após dia é maravilhoso e se todos estivermos alerta para a importância das ligações na idade pré-escolar facilmente concluimos que tudo o que “brincámos” na primeira infância está inteiramente presente na fases seguintes, na escola, na faculdade, no trabalho, nas relações com família, amigos, nas relações amorosas, na aquisição da consciência cívica e moral do que nos rodeia.
Espero continuar a ler o seu trabalho. De uma Mamã a aprender a ser Mãe, muito Obrigada!
Muito obrigada pelo seu feedback. Concordo plenamente consigo, e com a importância das experiências e competências adquiridas ao longo dos primeiros anos de vida. Temos outras publicações que exploraram, inclusivamente, alguns dos aspectos que refere, nomeadamente a importância da relação entre pais e educadores, ou da valorização de determinadas competências consideradas essenciais para as crianças. Esperamos que as nossas publicações continuem a ser do seu interesse e que continue a partilhar connosco as suas opiniões!