O jardim de infância deve constituir-se como um espaço de conforto que transmita segurança, que se afirme como lugar de pertença e de experienciação e que garanta o desenvolvimento e a aprendizagem da crianças. Um espaço que privilegie a relação das crianças com o exterior e com a natureza [1].
No contexto atual, a importância dos espaços exteriores nas experiências das crianças é ainda mais valorizada. No espaço exterior garante-se um ambiente devidamente arejado, importante para reduzir o risco de transmissão de doenças [2]. Também o brincar ao ar livre facilita a ativação do corpo – aspeto importante devido à reduzida atividade física que as crianças possam ter tido anteriormente – e oferece estímulos promotores de tranquilidade, respeito e ligação aos outros e ao mundo [2]. O valor do brincar ao ar livre é reconhecido no desenvolvimento saudável das crianças, não só nos dias de maior exposição solar, mas ao longo de todo o ano [3]. Estes espaços não precisam de ser necessariamente grandes, mas devem ser organizados de modo a aumentar as possibilidades de exploração das crianças [3].
Os espaços exteriores de maior qualidade parecem ser caracterizados pela [3]:
- presença de recursos naturais e fabricados,
- disponibilidade de materiais diversos e de fim aberto, pela sua maior riqueza sensorial e pelas possibilidades de experimentação, exploração e criação,
- acessibilidade e definição das diferentes áreas de jogo,
- possibilidade de risco e aventura.
Qual a sua importância no desenvolvimento e bem-estar das crianças?
Particularmente em ambientes naturais, a atividade física das crianças aumenta e as suas competências motoras melhoram, bem como a qualidade do sono das crianças [3]. A brincadeira dirigida pelas crianças também parece aumentar, promovendo a tomada de decisões, a resolução de problemas, a autorregulação, os comportamentos pró-sociais, a autonomia e a autoestima das crianças [3]. O contacto com espaços exteriores verdes também tem um efeito positivo nos níveis de stress das crianças, sugerindo que o ambiente natural é restaurador e influencia positivamente o bem-estar das crianças [4].
Como podemos redescobrir o espaço exterior durante a pandemia Covid-19? Algumas propostas [1, 3, 5]:
- O espaço exterior deve ser tido como uma estratégia para facilitar a adaptação, sendo, por si só, mais seguro e mais estimulante;
- Pensar o espaço exterior com intencionalidade educativa, adaptado ao contexto social e às características das crianças;
- Planear vários momentos, ao longo do dia, de exploração e descoberta no espaço exterior;
- Organizar os espaços que cada grupo pode utilizar, para que sejam salvaguardadas as devidas distâncias físicas e os tempos para procedimentos de desinfeção de cada local;
- Criar zonas de circulação amplas para que as crianças possam explorar o espaço livremente;
- Privilegiar a utilização de materiais de fim aberto, facilmente higienizáveis, e de materiais naturais (e.g., paus, folhas, pinhas, sementes, frutos, rochas, areia, terra, água) que não constituam perigo acrescido de contaminação e que podem ser facilmente encontrados e substituídos;
- Assegurar que os materiais são diversos e em número suficiente, de modo a diminuir as trocas constantes;
- Criar uma sala no exterior, com áreas semelhantes às da sala (no interior), tendo por base as Orientações Curriculares da Educação Pré-Escolar (OCEPE);
- Reconhecer e valorizar o brincar como direito, principalmente, o brincar ao ar livre.
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Em tempo de pandemia, considera uma mais-valia os momentos de exploração e descoberta ao ar livre? Que obstáculos encontra no espaço exterior da sua instituição?
Referências
[1] Associação de Profissionais de Educação de Infância, APEI (2020). Contributo para assegurar a qualidade pedagógica em educação pré-escolar (3-6 anos) em tempo de Covid-19. Disponível em http://apei.pt/upload/ficheiros/var/COVID_final_final_redux.pdf.
[2] Prochild (2020). Redescobrir a qualidade em educação de infância em tempos de mudança. Disponível em http://prochildcolab.pt/wp-content/uploads/2020/05/covid-19-educacao-de-infancia-1.pdf.
[3] Berti, S., Cigala, A., & Sharmahd, N.(2019). Early Childhood Education and Care Physical Environment and Child Development: State of the art and Reflections on Future Orientations and Methodologies. Educational Psychology Review. doi:10.1007/s10648-019-09486-0
[4] Sando, O. (2019) The outdoor environment and children’s health: a multilevel approach. International Journal of Play, 8(1), 39-52. doi:10.1080/21594937.2019.1580336
[5] Lopes da Silva, I., Marques, L., Mata, L., & Rosa, M. (2016). Orientações Curriculares para a Educação Pré-Escolar. Lisboa: Ministério da Educação, Direção-Geral da Educação (DGE).