Todos os anos, muitos pais de crianças que nasceram após 16 de setembro têm de tomar uma decisão importante: avançar com a inscrição no 1.º Ciclo ou deixar o filho ou a filha mais um ano no jardim de infância? Ao mesmo tempo, os/as educadores/as de infância refletem sobre a melhor recomendação a dar a cada família. Sabem bem quão importante é a sua opinião e o peso que poderá ter na decisão final dos pais.
Naturalmente, pais e educadores/as de infância, que tão bem conhecem cada criança, pesam as vantagens e as desvantagens de cada opção. Podem, por exemplo, ter em consideração: se aquele amigo especial também vai entrar para o 1.º Ciclo; se a criança pode ficar com aquela professora que a família já conhece; se a criança já tem competências para acompanhar os seus pares; se a criança já se interessa por tarefas mais estruturadas; etc.
Mas…o que diz a investigação a este respeito?
Em muitos estudos tem-se verificado que as crianças mais novas em cada turma (isto é, as crianças que nascem nos últimos meses do ano) estão em desvantagem em relação aos seus colegas mais velhos [1]. Essa desvantagem manifesta-se de muitas formas, nomeadamente, na:
- Maior probabilidade de obterem piores resultados académicos [2].
- Maior probabilidade de necessitarem de serviços de educação especial ou, usando uma terminologia mais compatível com o Decreto-Lei n.º 54/2018, de medidas adicionais de apoio à inclusão e aprendizagem [1, 2].
- Maior probabilidade de receberem um diagnóstico de hiperatividade e défice de atenção ou de precisarem de apoio psicológico [1, 3].
- Menor probabilidade de representarem a sua escola em competições desportivas [1].
Os resultados de alguns estudos sugerem que estes efeitos são duradouros e persistem ao longo da escolaridade [1, 4]. Contudo, os investigadores consideram tratar-se de um efeito de idade relativa. E porquê? É que também há evidências que, quando as crianças mais novas são avaliadas na mesma idade em que os seus colegas mais velhos foram avaliados, tendem a ter resultados superiores a estes [4].
O que pode explicar esta desvantagem relativa?
Há várias explicações para o efeito de idade relativa:
- As crianças mais velhas têm uma vantagem desenvolvimental, isto é, já tiveram mais tempo para adquirirem e praticarem competências [1].
- Ser mais velho e mais alto está associado a maior prestígio social, com consequências positivas para as relações sociais com os colegas [5].
- As expectativas dos/as colegas e dos/as professores/as podem ser mais elevadas para as crianças mais velhas, resultando num efeito Pigmalião, através do qual colegas e professores se comportam de formas diferentes em relação às crianças mais novas, influenciando negativamente o seu comportamento e desempenho [1, 5].
- Do ponto de vista motivacional, uma criança que se sente competente terá mais probabilidade de continuar a investir mais tempo e esforço nas atividades escolares [1] e de desenvolver uma autoestima positiva [5].
Estas (des)vantagens, ocorrendo isoladamente ou de forma cumulativa, podem ser decisivas para o (in)sucesso educativo. Sabemos que os efeitos de idade relativa nem sempre se verificam e podem variar em função do país/sistema educativo [5]. Contudo, tendem a ser mais evidentes em contextos excessivamente competitivos [6] e em crianças com incapacidades ou que vivem em situação de pobreza [7].
O que fazer, então, no caso das crianças que nascem no final do ano? Antecipar ou adiar a matrícula?
Cada criança é diferente e pais e educadores/as de infância fazem bem em continuar a considerar uma multiplicidade de fatores no seu processo de tomada de decisão. Contudo, as evidências disponíveis sugerem que há vantagens em ser dos mais velhos da turma nos primeiros anos de escolaridade. Assim, em caso de dúvida, quando uma criança nasceu entre 16 de setembro e 31 de dezembro, poderá ser vantajoso adiar a matrícula e permitir que a criança fique mais um ano no jardim de infância… brincando e desenvolvendo competências…
Que critérios considera ao aconselhar os pais das crianças com entrada “condicional” no 1.º Ciclo? Partilhe as suas experiências…
Referências
[1] Aune, T. K., Ingvaldsen, R. P., Vestheim, O. P., Bjerkeset, O., & Dalen, T. (2018). Relative age effects and gender differences in the national test of numeracy: a population study of norwegian children. Frontiers in Psychology, 9, 1091. doi:10.3389/fpsyg.2018.01091
[2] Cobley, S., McKenna, J., Baker, J., & Wattie, N. (2009). How pervasive are relative age effects in secondary school education? Journal of Educational Psychology, 101(2), 520–528. doi:10.1037/a0013845
[3] Holland, J., & Sayal, K. (2019). Relative age and ADHD symptoms, diagnosis and medication: A systematic review. European Child & Adolescent Psychiatry, 28(11), 1417–1429. doi:10.1007/s00787-018-1229-6
[4] Peña, P. A. (2017). Creating winners and losers: Date of birth, relative age in school, and outcomes in childhood and adulthood. Economics of Education Review, 56, 152-176. doi:10.1016/j.econedurev.2016.12.001
[5] Jeronimus, B. F., Stavrakakis, N., Veenstra, R., & Oldehinkel, A. J. (2015). Relative age effects in Dutch adolescents: Concurrent and prospective analyses. PLoS One, 10(6), e0128856. doi:10.1371/journal.pone.0128856
[6] Musch, J., & Grondin, S. (2001). Unequal competition as an impediment to personal development: A review of the relative age effect in sport. Developmental Review, 21, 147–167. doi: 10.1006/drev.2000.0516
[7] Datar, A. (2006). Does delaying kindergarten entrance give children a head start? Economics of Education Review, 25(1), 43-62. doi:10.1016/j.econedurev.2004.10.004
Só para esclarecer: Não se trata de adiamento de matrícula e não tem de solicitar nada, apenas não efetuar a matrícula.
Cara Ana,
Tem toda a razão.
A legislação em vigor prevê que “As crianças que completem os 6 anos de idade entre 16 de setembro e 31 de dezembro podem ingressar no 1.º ciclo do ensino básico se tal for requerido pelo encarregado de educação, dependendo a sua aceitação definitiva da existência de vaga nas turmas já constituídas, depois de aplicadas as prioridades definidas no n.º 1 do artigo 11.º do presente despacho normativo.”
Muito obrigada pelo seu comentário.
Boa noite
Só queria deixar o meu testemunho relativamente a este assunto. As minhas filhas só faziam 6 anos no início de dezembro e na altura ninguém colocou a hipótese de ficarem mais um ano no jardim de infância.
Sou educadora de infância e tinha perfeita noção do desenvolvimento e preparação das minhas filhas para o ingresso no primeiro ciclo. Achava que estavam preparadas e lá foram elas…. conseguiram mas tive que apoia-las em casa porque eram imaturas em relação aos amiguinhos. Eram as mais novas da sala…. até ao natal foi muito empenho e exigência da minha parte para elas estudarem, fazerem os TPC porque afinal queriam brincar.
Nunca reprovaram… foram sempre boas alunas e estão no terceiro ano da faculdade….
Cada caso tem que ser muito bem avaliado e ponderado.
Att
Bom dia, a minha filha nasceu a 14 de fevereiro. Após termos tido autorização da DREC, e ela ter sido submetida a entrevista com psicóloga, creio que do ME, a minha filha foi matriculado no 1 ano com 5 anos, a fazer 6 em fevereiro.
A nossa decisão prendeu-se pelo facto de ela querer muito ler ( já lia pequenas coisas nas legendas dos desenhos animados) e não desmotivar mais um ano no pré escolar.
Resumindo, ao longo da sua escolaridade foi sempre a mais nova, teve sempre notas boas e muita boas, entrou para a universidade com 17 anos com uma média muito boa, e acabou o mestrado com 21 anos. Foi sempre uma miúda feliz, bem integrada.
Agora já é trabalhadora e nunca teve qualquer problema por ser a mais nova.
Obrigada.
S.Almeida
Sou educadora e concordo que tem que ser visto cada caso diferencialmente, porque que cada criança é única, o seu ritmo de aprendizagem também pode ser diferente. As crianças que completam os seis anos depois de 16 de Agosto, têm a desvantagem de ter tido menos tempo para adquirir e treinar competências e por vezes reflete – se na autonomia e na capacidade de resistência emocional para executar tarefas mais estruturadas.
No jardim se a criança demonstra competências para acompanhar o grupo mais velho nas tarefas mais estruturadas, não vai influenciar negativamente o seu desempenho e comportamento. Daí concordar que deve ingressar ao 1ciclo. Se a
Criança demonstrar pouca autonomia e uma autoestima baixa, aí sim, na minha opinião, deve ficar mais um ano jardim e com apoio e estratégias a aprimorar competências para uma melhor maturidade.
A reflexão conjunta de pais e docentes é muito importante para decisões a tomar, mas de referir que fica sempre a prevalecer a decisão dos pais na entrada no 1 ciclo.
Eu acho que tem de ser visto caso a caso.
Como professora defendo isso. Já que aqui em casa tenho as duas situações. Tenho um filhote nascido a 31 de Dezembro que entrou com 5anos, sempre foi muito responsável e ótimo aluno
Por outro lado, a minha filhota mais nova é de 7 de janeiro, pelo que entrou na escola com 6 anos quase sete… E embora seja boa aluna, é mais imatura, mais indecisa e menos confiante…
Por isso acho que tem de ser ponderada particularmente cada situação.
Sou educadora e concordo que tem que ser visto cada caso diferencialmente, porque que cada criança é única, o seu ritmo de aprendizagem também pode ser diferente. As crianças que completam os seis anos depois de 16 de Agosto, têm a desvantagem de ter tido menos tempo para adquirir e treinar competências e por vezes reflete – se na autonomia e na capacidade de resistência emocional para executar tarefas mais estruturadas.
No jardim se a criança demonstra competências para acompanhar o grupo mais velho nas tarefas mais estruturadas, não vai influenciar negativamente o seu desempenho e comportamento. Daí concordar que deve ingressar ao 1ciclo. Se a
Criança demonstrar pouca autonomia e uma autoestima baixa, aí sim, na minha opinião, deve ficar mais um ano jardim e com apoio e estratégias a aprimorar competências para uma melhor maturidade.
A reflexão conjunta de pais e docentes é muito importante para decisões a tomar, mas de referir que fica sempre a prevalecer a decisão dos pais na entrada no 1 ciclo.
Sou educadora e tenho como firme princípio que a escola pode esperar.
Mais um ano no Jardim de Infância apoia a criança a ter uma autoestima positiva, um sentido crítico apurado e melhor estrutura emocional, não só para lidar com o 1ºciclo mas com a vida.
As histórias de família podem ser complexas e, o nosso papel é colocar sempre a criança no primeiro patamar da nossa inquietação.
A impaciência não é amiga da qualidade nem da excelência.
A inteligência emocional é fulcral no percurso de vida.