Este post é escrito por treze mestrandas de Intervenção Precoce (IP) em colaboração com dois docentes da ESELX que quiseram partilhar a sua experiência, respondendo a dúvidas (aferidas em focus group) sobre o trabalho colaborativo do educador e do profissional de IP.
Autores: Andreia Marques, Aurora Martins, Helena Rodrigues, Inês Ribeiro, João Rosa, Maria João Almada, Maria João Magão, Margarida Lourenço, Marina Fuertes, Marta Umbelino, Sílvia Rodrigues, Sofia Barja, Sofia Martins, Susana Sousa e Tânia Martins.
As crianças aprendem através da sua experiência (processo) e das interações que estabelecem nos seus contextos de vida com as pessoas que lhes são significativas [1]. A família e os agentes educativos são, tendencialmente, os primeiros e os mais significativos educadores da criança, nos quais ocorrem experiências precoces que se querem de qualidade. Assim, para estimular a aprendizagem e o desenvolvimento da criança, educadores/as, pais e profissionais de IP trabalham conjuntamente! Para o/a educador/a que deverá implementar as estratégias definidas por todos, é um grande desafio!
O/a educador/a ganhará confiança nesse processo se for apoiado e ajudado por todos. Com efeito, estabelecer uma relação de confiança e um trabalho colaborativo que identifique os objetivos, as estratégias e as atividades a desenvolver são etapas cruciais que estimularão a segurança do/a educador/a. Deste processo resulta a partilha de estratégias de intervenção de acordo com as necessidades da criança, promovendo maiores, e melhores oportunidades de aprendizagem e de desenvolvimento.
O/a educador/a deverá encontrar estratégias para referenciação, planificação e trabalho colaborativo com a família.
Referenciação
Através das suas observações diárias, avaliações e instrumentos de reflexão, o/a educador/a poderá descrever o perfil de desenvolvimento da criança, identificando possíveis sinais de risco.
Com uma comunicação aberta e honesta, o/a educador/a partilha os sinais de risco com a família. A referenciação proposta deve obter o consentimento da família e deste processo deve resultar uma participação colaborativa entre todos.
No âmbito do Sistema Nacional de Intervenção Precoce (SNIPI), são elegíveis para apoio as crianças entre os 0 e os 6 anos e respetivas famílias, que apresentem condições incluídas nos seguintes grupos: com alterações nas funções ou estruturas do corpo e com risco grave de atraso de desenvolvimento. No primeiro grupo, crianças com alterações na estrutura/função do corpo (e.g., paralisia cerebral) são imediatamente elegíveis; a elegibilidade do segundo grupo depende da acumulação de quatro ou mais fatores de risco biológico (e.g., complicações pré-natais severas e prematuridade) e/ou ambiental (e.g., pobreza ou desorganização familiar).
A etapa seguinte passa pelo preenchimento da Ficha de Referenciação (ver website do SNIPI) e existem dois formatos distintos:
- Um dos formulários requer um preenchimento descritivo;
- No outro assinalam-se as opções descritas.
Independentemente do tipo de formulário escolhido, a referenciação deve ser complementada com uma avaliação e/ou uma recolha de evidências.
Planificação e Intervenção
Na
perspetiva de consultoria colaborativa, segundo o modelo Intervenção Precoce
Baseada nas Rotinas (IPBR), no primeiro encontro com a família e com o/a
educador/a, o/a profissional de intervenção precoce realiza uma entrevista
semiestruturada (EBR) [2]. O objetivo da entrevista é descrever a participação,
natureza e frequências das rotinas da criança em todos os seus contextos
de vida.
É importante partilhar as preocupações! A família e o/a educador/a descrevem as rotinas da criança, estabelecendo o seu grau de autonomia e de funcionalidade. Esta informação dará origem ao processo de planificação da intervenção que culmina na elaboração do Plano Individual de Intervenção Precoce (PIIP). Todos participam na sua construção, num trabalho articulado de equipa.
Inicialmente estabelecem objetivos comuns que: i) refletem as prioridades da família; ii) são úteis e significativos; iii) são individualizados e decorrentes das experiências de vida da criança; iv) são descritos em linguagem corrente; e v) são mensuráveis [3].
Combinados os objetivos e as estratégias, dá-se lugar à implementação. Mais do que uma sessão por semana com um técnico num gabinete, procura-se que a criança receba os mesmos estímulos e as mesmas regras por parte de todos quanto lidam com ela [4]. As regras e as rotinas, ao tornarem-se previsíveis e coerentes, são mais facilmente aprendidas, compreendidas e aceites pela criança [Revisão em 5].
A avaliação é uma forma de monitorização e atualização da intervenção de modo contínuo e dinâmico, analisando os resultados obtidos (a partir dos objetivos), avaliando o processo (e.g., satisfação da família) e as interações estabelecidas. O/a educador/a deve ser um elemento ativo desta avaliação (e.g., recolhendo dados através de notas de campo, observações dirigidas, promovendo atividades que testem hipóteses colocadas pela equipa). O trabalho em equipa deverá basear-se em princípios de partilha, confiança e apoio mútuo.
4 Estratégias para promover o trabalho colaborativo entre o/a educador/a e os profissionais de intervenção
Entrevistamos seis educadoras e, com base na análise de conteúdo, partilhamos as suas principais estratégias:
1.Quando tem uma criança elegível para a IP na sua sala pergunta-se, certamente, como pode ajudar? Questionar-se é o início do percurso! Se está disponível para participar no processo de intervenção, é importante conhecer e integrar as perspetivas da criança, da família e dos técnicos de IP. Como eles o/a educador/a deverá participar, colaborativamente, no planeamento de estratégias conjunta;
2. Partindo do conhecimento construído, o passo seguinte, pode ser a reflexão conjunta para delinear estratégias pedagógicas, organizar o espaço e construir materiais. Como vou adaptar a minha prática, os materiais e os espaços às necessidades específicas de cada criança e do grupo?
3. Uma estratégia importante, pode ser a mobilização de todas as forças (e.g., recursos humanos e materiais, conhecimento, espaços) existentes na comunidade (as famílias, os técnicos, outros educadores, os especialistas, as organizações, as associações, entre outros).
4. Práticas educativas inclusivas são um processo que requer constante atualização. O educador pode promover encontros e reuniões para debater a inclusão aliando os contributos de pais, educadores, profissionais de IP e especialistas.
A aceitação da mudança e o trabalho conjunto requerem compromissos que potenciam as forças de todos! Na sua prática que estratégias usa para se articular com os colegas de intervenção precoce? Como partilha o conhecimento? Como pede ajuda?
Referências
[1] Bronfenbrenner, U. (1992). Ecological systems theory. In R. Vasta (Ed.) Six theories of child development: Revised formulations and current issues (pp. 187-248). Philadelphia: Jessica Kingsley.
[2] McWilliam, R. (2009). The routines-based interview. A method for gathering information and assessing needs. Infants & Young Children, 22 (3), 224-233.
[3] McWilliam, R. (2010). Early intervention in natural environments: A five-component model. Early Steps. http://www.siskin.org/www/docs/112.180/, 01-12-2019.
[4] Boavida, T., Aguiar, C. & McWilliam, R. (2018). A intervenção precoce na infância e os contextos de educação de infância. In M. Fuertes, C. Nunes, D. Lino, & T. Almeida (Coord.). Teorias, práticas e investigação em intervenção precoce. CIED: Escola Superior de Educação de Lisboa.
[5] Fuertes, M. (2016). Pais e filhos crescem juntos. US: Space Create.
Na minha opinião a partilha com as Equipas passa pela inclusão das Educadoras nas próprias Equipas. As estratégias de Intervenção com a criança/familia devem ser definidas pela Equipa e estarem associadas a cada um dos objetivos definidos no PIIP.
Concordamos! A inclusão de todos num trabalho conjunto e articulado. Muito obrigada pelo seu contributo.
Como pode uma educadora integrar o snipi?
Cara Andreia
Obrigada pela sua questão. Creio que deseja saber como pode integrar uma equipa de IP. Sendo educadora deverá ter mais de 5 anos de experiência de prática educativa comprovada em contexto pré-escolar. Para além da experiência comprovada, o acesso aos concursos nacionais depende da especialização (pós-graduação ou mestrado) no domínio da Educação Especial – Intervenção Precoce. Para saber informações mais detalhadas sobre os concursos, critérios de admissão e prazos, contacte diretamente o SNIPI.
Saudações cordiais
Neste momento ainda não há um concurso nacional exclusivo para a integrar a Intervenção Precoce. Os educadores que integram as Equipas são propostos por quem já está nas equipas, aos agrupamentos de referência para a Intervenção Precoce de cada cidade. Por sua vez os agrupamentos, propõem aos docentes a integração no agrupamento, através do concurso de Mobilidade Estatutária.
Também não é obrigatório ter especialização, é ideal que assim seja. Mas penso que a médio prazo, haverá alterações nestes concursos.