“Esta semana sinto-me esgotada! À mínima situação de conflito, algumas crianças da minha sala choram, gritam, batem… As suas emoções impedem-nas de resolver os seus problemas. O que posso fazer mais?” Retomamos uma mensagem anterior sobre a importância das emoções serem reguladas, procurando explorar algumas estratégias que o/a educador/a pode utilizar para ajudar as crianças nesta tarefa.
Existem inúmeras diferenças entre as crianças, tanto ao nível das suas respostas emocionais, na frequência e na variedade das suas emoções, assim como na forma de as exprimirem [1]. Podemos ter crianças em que as suas respostas emocionais estão habitualmente fora de controlo, como as crianças cujas respostas de raiva são tão desadequadas que não conseguem formar nem manter amizades ou as crianças cujo evitamento de situações emocionais desafiadoras é tão frequente que não conseguem envolver-se em novas atividades [2].O/a educador/a, bem como a família, pode desempenhar um papel significativo ao ajudar, por exemplo, as crianças a controlar a sua raiva e a lidar com as situações de frustração de uma forma adequada. Neste sentido, partilhamos algumas estratégias [2]:
A “Técnica da Tartaruga”
“Eles não me deixam brincar!”. Nesta situação, a criança pode ficar agitada, com o coração acelerado e a respiração rápida, perdendo o controlo. A “Técnica da Tartaruga” pode ser uma forma eficaz para a criança se acalmar e representa um primeiro passo antes de se envolver na resolução de problemas [2, 3, 4]. Esta técnica poderá ser utilizada tanto em grupo como individualmente.
- Peça às crianças para imaginarem que têm uma carapaça, como uma tartaruga, para onde podem retirar-se quando estão a ficar zangadas;
- Peça-lhe para irem para as suas carapaças imaginárias, para respirarem fundo devagar, três vezes, e dizerem: “pára, respira fundo, acalma-te e pensa”;
- À medida que as crianças estiverem a respirar lentamente, peça-lhes para se concentrarem na sua respiração e para empurrarem o ar para os braços e pernas de modo a relaxarem os músculos;
- À medida que as crianças continuam com esta respiração lenta, encoraje-as a dizer “Eu consigo acalmar-me. Eu sou capaz, eu sou capaz de me controlar”;
- Encoraje as crianças a manterem-se nas suas carapaças até se sentirem suficientemente calmas para saírem e tentarem novamente resolver o problema. Algumas crianças irão precisar de mais tempo do que outras;
- Quando saírem proporcione-lhes feedback positivo e elogie-as pelos seus esforços.
Esta técnica deverá ser praticada com frequência, uma vez que é esperado que as palavras “pára, respira fundo, acalma-te e pensa” desencadeiem uma resposta calmante e uma linguagem interna na criança quando for confrontada com uma situação de conflito. De modo a que as crianças possam recorrer, de forma autónoma, a esta técnica, poderá ser útil afixá-la na sua sala.
Criar uma rotina consistente e previsível
O estabelecimento de regras claras e consistentes e de rotinas previsíveis ajuda as crianças a sentirem-se seguras e confiantes [5]. Quando as crianças entendem a sala como um lugar seguro, começam a desenvolver recursos emocionais para lidarem com contextos menos previsíveis.
Usar uma linguagem emocional
“Senti-me um pouco frustrado por não me ouvirem”, “Fico feliz por vos ver a partilhar os brinquedos”, “Fiquei orgulhoso/a!”. Os/As educadores/as que usam uma linguagem emocional para exprimir os seus estados emocionais e para interpretar os dos outros e que falam sobre as emoções para que as crianças aprendam a nomear emoções com exatidão estão a dar às crianças mecanismos eficazes para regularem as suas emoções. Com este tipo de ferramentas, é provável que as crianças recorram menos a comportamentos explosivos associados a emoções negativas. As crianças que aprendem a usar uma linguagem emocional têm mais controlo sobre as suas expressões emocionais, o que por sua vez aumenta a sua capacidade para regular as emoções.
Encorajar as crianças a falarem sobre as suas emoções
Evitar dizer “Não estejas triste” ou “Não devias estar zangado”. Em alternativa, é importante nomear a emoção da criança com exatidão e encorajá-la a falar sobre o que está a sentir “Vejo que estás triste, queres partilhar comigo o que aconteceu?”. Pode ser útil partilhar uma experiência passada que seja semelhante à da criança.
Trabalhar em colaboração com a família
Estas estratégias terão ainda mais sucesso se a família também estiver envolvida [2]. Por exemplo, o/a educador/a pode pedir à família para reparar nas situações em que os/as seus/suas filhos/as estão felizes, assustados/as, zangados/as, calmos/as, frustrados/as ou tristes e nomearem essas emoções. Sugira que brinquem ao jogo “Porquê porquê?”. Neste jogo, os pais ou as mães dizem, por exemplo, “estou feliz!” e pedem à criança para adivinhar porquê. Depois os pais ou as mães podem trocar de papéis com a criança. É relevante que sejam encorajadas a falar sobre emoções positivas e não apenas sobre as negativas. É importante que a Técnica da Tartaruga também seja trabalhada em casa.
Na sua rotina diária lida com frequência com comportamentos de raiva e frustração? Como procura ajudar as crianças a regular as suas emoções? Partilhe connosco as suas estratégias.
Referências
[1] Denham, S. A. (2007). Dealing with feelings: How children negotiate the worlds of emotions and social relationships. Cognition, Brain, Behavior, 11(1), 1-48.
[2] Webster-Stratton, C. (2017). Como promover as competências sociais e emocionais das crianças. Braga:Psiquilíbrios Edições.
[3] Greenberg, M. T., Kusche, C. A.,Cook, E. T., & Quamma, J. P. (1995). Promoting emotional competence in school-aged children: The effects of the PATHS Curriculum. Development and Psychopathology, 7, 117-136. doi:10.1017/s0954579400006374
[4] Webster-Stratton, C., & Hammond, M. (1997). Treating children with early-onset conduct problems: A comparison of child and parent training interventions. Journal of Consulting and Clinical Psychology, 65(1), 93-109. doi:10.1037//0022-006x.65.1.93
[5] Portugal, G. (2002). Dos primeiros anos à entrada para a escola – transições e continuidades nas fundações emocionais da maturidade escolar. Aprender, 26, 9-16.