Nesta mensagem irei escrever sobre a importância de as crianças pequenas brincarem no exterior, com o objetivo de reforçar as suas potencialidades e de refletir com os/as leitores/as sobre como utilizar este contexto.
Os espaços e o tempo de brincadeira mudaram significativamente na última parte do século XX e no início do século XXI [1,2]. Muitas das preocupações relacionadas com a brincadeira das crianças pequenas são comuns em diferentes países europeus – diminuição da quantidade de espaços não urbanos, intromissão invasiva dos adultos no tempo livre das crianças, receios quanto ao brincar ao ar livre (por exemplo, por causa do trânsito, sensação de ‘perigo’, doenças e alergias), entre outras.
Brincar no exterior, lugar de inclusão e experiências sensoriais.
Os espaços exteriores de creches e jardins de infância podem oferecer às crianças pequenas importantes possibilidades de brincar ao ar livre [3]. Vários estudos têm demonstrado que a brincadeira no exterior aparece associada a maiores níveis de inclusão e de envolvimento de todas as crianças, assim como ao seu desenvolvimento e à sua aprendizagem [3,4].
Para tal, os espaços exteriores devem ter em conta diversas dimensões essenciais, das quais destaco as seguintes: 1) organização e disposição flexíveis; 2) variabilidade nos materiais e artefactos disponibilizados[1].
A organização e a disposição do espaço são enriquecidas se forem associadas à variedade de recursos naturais existentes, como, por exemplo, os arbustos existentes, plantas que atraem insetos, árvores, terra, folhas, pequenas pedras, recipientes com água, etc. Cabe aos adultos e às crianças definirem como podem potenciar os recursos naturais existentes e as características específicas do contexto [4]. Por exemplo, é necessário considerar as mudanças que podem ocorrer associadas às condições climatéricas e às ações das crianças.
Esta organização e flexibilidade são reforçadas com a utilização de materiais e artefactos que potenciem a exploração do espaço exterior, como, por exemplo, ferramentas, roupas, pneus, latas, tubos, lupas, utensílios de cozinha, etc. O critério deve ser, tanto quanto possível, o de oferecer diversidade para facilitar que as crianças se apropriem e explorem o espaço de múltiplas maneiras de forma segura [3].
Uma vez que todas as crianças são diferentes, as suas brincadeiras assumem diferentes formas e direções, reforçadas por um espaço exterior rico. Consequentemente, este pode tornar-se mais inclusivo para todas as crianças, na medida em que todas encontram possibilidade de exploração [5]. É importante que as crianças possam escolher o que fazer, onde fazer e como fazer, cabendo ao/à educador/a apoiar:
- A exploração das crianças sempre que solicitado;
- Que as crianças brinquem autónoma e livremente;
- Os interesses das crianças, disponibilizando materiais, colocando questões e estabelecendo diálogos;
- As escolhas e das crianças.
Desta combinação entre os recursos naturais disponíveis no exterior, os artefactos disponibilizados e a ação do/a educador/a podem emergir, entre outras, experiências sensoriais e estéticas que podem ser apreciadas por todos e oferecer possibilidades de continuidade com o trabalho desenvolvido em sala. Por exemplo [1]:
- Experiências sensoriais em relação à luz e sombra;
- Combinações de cores e contrastes;
- Sons e barulhos como parte da paisagem natural;
- Texturas variadas de cascas, folhas, seixos e areia;
- Odores de erva cortada, terra molhada, flores e plantas.
Reflita connosco nos comentários…
- Que potencialidades e constrangimentos encontra no espaço exterior da sua instituição?
- Quando e como é que devemos interferir/participar nas brincadeiras das crianças?
- Onde estão os limites do risco? Quando é que o brincar se torna arriscado? Como é que decidimos quais os limites do que pode ou não uma criança fazer no exterior?
- Como lidar com a lama e a sujidade natural do espaço exterior?
Referências
[1] Casey, T. (2007). Environments for outdoor play. London: SAGE.
[2] Bento, G. (2015). Infância e espaços exteriores – perspetivas sociais e educativas na atualidade.Investigar em Educação, 4, 127-140.
[3] Bilton, H., Bento, G., & Dias, G. (2017). Brincar ao ar livre. Porto: Porto Editora.
[4] Children’s Play Council. (2006). Play Naturally: Survey of children’s views. London: Children’s Play Council.
[5] Casey, T. (2004) Play Inclusive (P.inc) Research Report. Edinburgh: The Yard.