Este texto pretende apresentar recomendações para educadores de infância sobre como promover práticas de qualidade na utilização dos ecrãs com crianças entre os 3 e os 6 anos, de modo a apoiar, esclarecer dúvidas e aproveitar as potencialidades destes recursos para o desenvolvimento das crianças.
Os ecrãs rodeiam-nos e despertam, desde cedo, o fascínio das crianças. O uso das tecnologias e dos media tem suscitado diferentes preocupações e reflexões sobre as suas potencialidades pedagógicas e sociais. Se, por um lado, sabemos que as crianças poderão estar expostas a conteúdos inapropriados ou com impacto negativo na sua saúde e segurança (ex., sono, interação social) [1], também se reconhece que os media e as tecnologias assumem um papel importante no desenvolvimento e na aquisição de competências fundamentais para a vida no séc. XXI [2], como se pode ver no Perfil dos alunos do século XXI e no Quadro Europeu de Competência Digital para Cidadãos.
Assim, várias entidades como a UNESCO e a OCDE recomendam que se comece desde cedo, no jardim de infância, a educação para o uso e compreensão dos media e das tecnologias pelas crianças, divulgando linhas orientadoras [3, 4]. Vários países, incluindo Portugal, integraram esta recomendação nas suas políticas educacionais e nos currículos e têm procurado implementar atividades de educação para os media e para o uso das tecnologias de forma mais informada e com maior proteção [5]. Exemplo disso foi a elaboração do Referencial de Educação para os Media, que também abrange a educação pré-escolar [6].
Aos profissionais de educação cabe o papel de permitir o acesso da criança a uma visão global e realista das diversidades culturais e sociais do mundo. Nesse contexto, o uso dos media e das tecnologias poderá ser um recurso benéfico.
Como planear e desenvolver atividades com ecrãs entre os 3 e os 6 anos?
Ao desenhar atividades pedagógicas para crianças, com recurso a tecnologias e aos media [6,7], devemos ter em conta os seguintes aspetos:
– Conhecer e compreender os conhecimentos, competências e capacidades das crianças na utilização dos ecrãs. Antes de procurar um jogo ou vídeo, pense: O que estou à procura? Quero algo que seja divertido ou criativo? Qual é o desenvolvimento da criança? Identifica ou imita sons, sabe reconhecer as formas, cores, números ou letras? Quais os interesses da criança? Gosta de música e de seguir o ritmo com palmas?
– Selecionar com as crianças as aplicações, jogos ou atividades a realizar com os ecrãs. Deste modo, será possível avaliar a qualidade e adequabilidade dos recursos e promover a partilha dos interesses pessoais de cada criança. Pode sempre pedir conselhos a outros educadores, pais ou especialistas; contudo, será sempre importante identificar quais são para si as caraterísticas que deve ter um bom jogo, aplicação ou vídeo (ex. Devem promover a aprendizagem de que competências? Devem estimular a criatividade?). Para auxiliar nesta avaliação, alguns jogos eletrónicos ou filmes indicam qual a idade mínima recomendada para a sua utilização ou visualização. Consiste numa referência, que pode ajudar na seleção.
– Estimular as crianças para uma utilização ativa e interativa dos ecrãs com a orientação do adulto. Seja criativo e explore, por exemplo, a natureza (ex. tirar fotos) ou crie histórias com recurso a aplicações interativas.
– Alertar as crianças e as famílias para os cuidados a ter no uso de ecrãs. Recomenda-se que o tempo diário com ecrãs (i.e., televisão, tablets ou telemóveis) não deva exceder 1 a 2 horas na sua totalidade. Também se aconselha que se evite a utilização de dispositivos tecnológicos antes de dormir uma vez que a luz dos ecrãs e os incentivos nas atividades (ex. jogos, vídeos) podem perturbar o sono da criança.
– Conversar com as crianças sobre a segurança na utilização dos ecrãs, de modo a saberem o que fazer caso entrem em contacto com conteúdo desadequado para a sua idade. Diga-lhes que caso vejam algo desagradável ou louco nos ecrãs deve afastar-se e informar um adulto.
– Possibilitar a cada criança a partilha das suas representações e ideias sobre o meio que a rodeia (ex. desenhos/fotos; gravações; vídeos ou storytellings).
– Proporcionar o acesso, conhecimento e respeito de diferentes realidades sociais e culturais (mostrar, ouvir, incluir), com recursos digitais diversificados.
– Refletir, conjuntamente e de forma orientada, sobre aspetos como: mensagem, caraterísticas e veracidade, recorrendo à comunicação, criatividade e reflexão. Por exemplo: Quando as crianças ouvem uma história onde a personagem principal voa podemos promover a identificação da ideia principal, questionar as crianças se as pessoas podem voar na vida real e promover o reconhecimento da diferença entre a ficção e a realidade. De igual modo, podemos falar sobre a importância, tempos e atividades desenvolvidas nos ecrãs bem como acerca das suas diferenças, por exemplo, distinguindo histórias de notícias.
– Brincar e realizar atividades artísticas usando fotos digitais, vídeos e gravações de áudio que podem ajudar as crianças a compreender que os media são mais do que meios de entretenimento.
– Falar sobre histórias que leram ou programas que ouviram, o que ajudará as crianças a estruturar ideias e a atribuir significados, através da sua ação sobre a história (ex. identificar sentimentos, predizer eventos).
– Criar um livro digital sobre a família e colegas (ex. fotos, histórias, locais).
Entre mãos e ecrãs partilhamos ideias…
Partilhem connosco as vossas preocupações, opiniões ou atividades preferidas, com crianças entre os 3 e os 6 anos, sobre o uso das tecnologias e dos media.
Links úteis:
https://www.commonsensemedia.org/
http://www.discovermedialiteracy.com/
https://www.clemi.fr/
http://www.nonio.uminho.pt/kidsmedialab/
Referências
[1] NAEYC. (2012). Technology and interactive media as tools in early childhood programs serving children from birth through age 8. Retirado de https://www.naeyc.org/sites/default/files/globally shared/downloads/PDFs/resources/topics/PS_technology_WEB.pdf.
[2] Buckingham, D. (2007). Media education goes digital: An introduction. Learning, Media and Technology, 32(2), 111-119. doi: 10.1080/17439880701343006.
[3] UNESCO (2010). Recognizing the potential of ICT in early childhood education: Analytical survey. Retirado de http://unesdoc.unesco.org/images/0019/001904/190433e.pdf.
[4] OECD (2016). Innovating education and educating for innovation: The power of digital technologies and skills. Retirado de http://dx.doi.org/10.1787/9789264265097-en.
[5] Livingstone, S., Marsh, J., Plowman, L., Ottovordemgentschenfelde, S., & Fletcher-Watson, B. (2014). Young children (0-8) and digital technology: A qualitative exploratory study – national report – UK. Retirado de http://eprints.lse.ac.uk/60799/.
[6] Pereira, S., Pinto, M., Madureira, E. J., Pombo, T., & Guedes, M. (2014). Referencial de educação para os media para a educação pré-escolar, o ensino básico e o ensino secundário. Retirado de
http://www.dge.mec.pt/sites/default/files/ficheiros/referencial_educacao_media_2014.pdf.
[7] Araújo, C. L., Aguíar, C., Monteiro, L. & Boavida, T. (2018). State of art on media education as well as Information and Communication Technologies (ICT) use in Early Childhood Education. In Media competency training for professionals in day care centers and comparable institutions in rural area of Europe. ISCTE- IUL, Lisboa. Cofunded by the Erasmus+ Programme of the European Union.